sábado, 12 de abril de 2008

Uma historieta de comboios


O Zé vivia em Coimbra.
Mas não estava lá muito satisfeito. O romantismo do fado de Coimbra, os estroinas dos estudantes, um país que vivia do sol e de uns eventos que aconteciam lá longe, na capital… Não estava satisfeito!
Mas desde pequeno que tinha ouvido falar de Vladivostok, cidade lá no outro extremo do outro continente, onde as pessoas viveriam bem, em paz umas com as outras. Sempre ouvira falar bem de Vladivostok e criara um desejo enorme de para lá ir viver. Até sonhava com isso de noite.

Um dia perdeu vergonhas e acanhamentos, fez a trouxa, pequena, e sem sequer se despedir de quem quer que fosse, partiu para a terra dos seus sonhos. Foi à estação de comboios e pediu:
Um bilhete para Vladivostok, por favor.
Na estação não conheciam, pelo que lhe disseram:
Leva este até Paris e aí pergunta como lá chegar.
Embarcou e foi. À chegada foi ao guichet e pediu:
Um bilhete para Vladivostok, por favor.
Não constava dos horários das ferrovias, mas suspeitavam que fosse para Leste. Disseram-lhe:
Para lá não temos, mas leva este até Berlim e lá vê como seguir.
Pegou no bilhete, subiu para a composição e foi. E assim que pisou o cais, à chegada, foi à bilheteira onde pediu:
Um bilhete para Vladivostok, por favor.
Do outro lado do vidro olharam uns para os outros, encolheram os ombros e responderam-lhe:
Não temos. Mas podemos passar-lhe um para Varsóvia. Lá deve haver.
Encolhendo os ombros também, porque estava no caminho de qualquer forma, foi. E, já na estação central de Varsóvia e em chegando a sua vez na fila para bilhetes, pediu:
Um bilhete para Vladivostok, por favor.
Também ali não lho venderam, mas deram-lhe um para Moscovo com a recomendação de por lá perguntar. E foi.
E o vendedor de bilhetes moscovita, ao ouvir o pedido: “Um bilhete para Vladivostok, por favor.” entregou-lho logo, com desejos de boa viagem. Que ele fez com satisfação.

Acontece que a terra dos sonhos nem sempre é como a imaginamos. Neste caso tratava-se de uma cidade fria, escura, com poucas horas de sol e onde a bonomia e boa-disposição não se encontravam a cada esquina como na sua terra natal – Coimbra.
E passado algum tempo as saudades começaram a roer-lhe a alma e morder forte a ponto de decidir regressar.
Dirigiu-se à estação de caminho de ferro e pediu:
Um bilhete para Coimbra, por favor.
Com certeza”, responderam-lhe, “Coimbra-Cidade ou Coimbra-B?