sábado, 26 de abril de 2008

Testemunhos


Quando cheguei para o almoço habitual na esplanada do Jardim da Estrela (hamburguer, salgado ou salada de frutas, cola e café), o dono veio meter conversa comigo.
Cliente habitual que sou, de há quase dois anos a esta parte, as conversas têm surgido em torno da vida no jardim, das melhorias e dificuldades, dos mercados e feiras, do tempo, aquelas conversas de uns minutos que, com o passar dos tempos, vão mais fundo e longe.
Desta feita, vinha ele mostrar-me um “troféu”: estes jornais!
Tinha lá aparecido um homem que os ia vendendo, ao preço de cinco euros cada um. Verdadeiras relíquias com mais de trinta anos, são por si mesmo testemunhos da história.
Claro que não resisti e, depois de ter comido, pedi-lhe que mos emprestasse para os fotografar. E ainda estivemos um pedaço a falar desses tempos, das vivências de cada um, das consequências de então e de agora e daquilo que agora falta e que então existia.

Passadas umas horas, já eu estava de banca montada fazia tempo e sem clientes, surge-me um cavalheiro. Vinha direito a mim, com uma braçada de jornais velhos sob o braço. E propôs-me o negócio: Todo o molho por cinco euros, que eram os últimos. Claro que não resisti e comprei. Mas estiquei a coisa e ficámos à conversa.
Da minha idade, fôramos companheiros então, sem que nos conhecêssemos. Eu no Padre António Vieira e no D. Leonor, ele no D. João de Castro, tínhamos partilhado os mesmos movimentos juvenis e, a ser verdade as datas e locais que recordámos, frequentado as mesmas reuniões e manifestações.
Este negócio de ocasião a que se dedicava neste dia era fruto dos seus arquivos de então. Mas reservava para si mesmo os exemplares mais significativos, comprados na época e à revelia da vontade paterna. E esses, nem num momento de crise total, ainda que lá caminhasse agora, os venderia.
Ainda estive para lhe dar os mesmos cinco euros e que conservasse os testemunhos. Mas não!
Mais que um negócio, aquilo quase que tinha foros de partilha e a caridade (ou solidariedade), naquelas circunstâncias, talvez que não fosse bem recebida. Que ele estava a escolher os “clientes”.
Fizemos ainda uma fotografia, com um jornal na mão, e ficou de voltar, um destes dias, com a filha e a neta, de quem mostrou as que tinha na carteira. E foi-se!

Até um dia, companheiro!

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