A cada passo encontramos monumentos.
São marcos históricos, daquilo que fomos e somos, uns honrados e celebrados, outros convenientemente olvidados, pela bruma do tempo ou pela vergonha dos homens.
A cada passo temos disto, aqui ou em qualquer outro país.
Em Sintra temos dois, mesmo pertinho um do outro, mesmo virados um para o outro.
Um deles é uma cabine telefónica. Daquelas como já é raro, muito raro de encontrar, com janelinhas e porta de vidro e tabuinhas, com uma mola mantendo a porta fechada e protegendo os telefonantes das intempéries e dos ouvidos indiscretos. No tempo “da outra senhora” era importante manter esta privacidade!
Ao que sei, estas cabines são modelo importado do Reino Unido, onde as questões climatéricas são marcantes na vida dos cidadãos. Por cá, com a desertificação e a extinção da polícia política, estes abrigos deixaram de ser uma necessidade premente, tanto mais que os telemóveis vieram quase que os tornar obsoletos.
Triste mesmo foi a incapacidade de quem decide, que, mantendo a cabina em utilização na via pública, decidiu repintá-la, extinguido o amarelo e vermelho que lhe era característico por um branco tinta d’oleo, que mais parece de um frigorífico ou de uma sala de hospital.
Mas, igualmente triste é a história do edifício que aqui vedes, mesmo ao lado.
Logo após a revolução de ’74, foi ocupado como muitos outros, visto que se encontrava vazio e inactivo. Nele se instalou um grupo de gente de boa vontade e iniciativa e ali surgiu um dos primeiros infantários do conselho. Não me recordo do nome que teve, mas se me disserem que se chamava “Infantário Ribeiro dos Santos” não me espantaria.
E ali esteve por muitos e largos anos, recebendo diariamente as crianças dos que iam trabalhar, levando-as às primeiras letras, aos jogos e às cores, às actividades próprias daquelas idades.
Até que um dia os donos originais do imóvel requereram a sua posse de novo. Ao que sei, a questão arrastou-se nos tribunais por uns tempos até que regressou às mãos de quem o tinha possuído decénios a fio. E o infantário encerrou.
Encerrou mas os vestígios do que tinha ali acontecido não desapareceram. Que nas janelas foram ficando os bonecos recortados e colados pelas educadoras, que assim animavam as salas da pimpolhada.
É que, tendo recuperada a posse do prédio, os antigos e novos donos nada dele fizeram. Nem o habitaram, nem o venderam nem lhe deram outro uso. Continua ali quase como foi deixado aquando da saída do infantário.
E digo quase porque algumas mudanças aconteceram: A tinta foi caindo, o telhado foi metendo água, os vidros foram-se partindo e, para prevenir o pior, as janelas e portas foram fechadas por dentro com tijolos e argamassa. E do que se vê do pátio e acessos, difícil é chegar às portas, que o matagal tomou conta do espaço.
A única coisa recente que ali existe é um cartaz mal amanhado e, ainda por cima errado. Que, como se sabe, os imóveis não se alugam, arrendam-se.
Este é mais um monumento ao absurdo da cupidez de uns quantos que, na tentativa de se vingarem do que foi, preferem deixar apodrecer a que se lhe dê uso. Por muito útil e de serviço público que possa vir a ser usado.
E é assim que, na Vila de Sintra, Património Mundial, adulteram-se os equipamentos históricos e pouco cuidado se tem com os que lá vivem. Que é bem mais importante a receita que o turista possa deixar, mesmo que não tenha vontade de lá voltar!
São marcos históricos, daquilo que fomos e somos, uns honrados e celebrados, outros convenientemente olvidados, pela bruma do tempo ou pela vergonha dos homens.
A cada passo temos disto, aqui ou em qualquer outro país.
Em Sintra temos dois, mesmo pertinho um do outro, mesmo virados um para o outro.
Um deles é uma cabine telefónica. Daquelas como já é raro, muito raro de encontrar, com janelinhas e porta de vidro e tabuinhas, com uma mola mantendo a porta fechada e protegendo os telefonantes das intempéries e dos ouvidos indiscretos. No tempo “da outra senhora” era importante manter esta privacidade!
Ao que sei, estas cabines são modelo importado do Reino Unido, onde as questões climatéricas são marcantes na vida dos cidadãos. Por cá, com a desertificação e a extinção da polícia política, estes abrigos deixaram de ser uma necessidade premente, tanto mais que os telemóveis vieram quase que os tornar obsoletos.
Triste mesmo foi a incapacidade de quem decide, que, mantendo a cabina em utilização na via pública, decidiu repintá-la, extinguido o amarelo e vermelho que lhe era característico por um branco tinta d’oleo, que mais parece de um frigorífico ou de uma sala de hospital.
Mas, igualmente triste é a história do edifício que aqui vedes, mesmo ao lado.
Logo após a revolução de ’74, foi ocupado como muitos outros, visto que se encontrava vazio e inactivo. Nele se instalou um grupo de gente de boa vontade e iniciativa e ali surgiu um dos primeiros infantários do conselho. Não me recordo do nome que teve, mas se me disserem que se chamava “Infantário Ribeiro dos Santos” não me espantaria.
E ali esteve por muitos e largos anos, recebendo diariamente as crianças dos que iam trabalhar, levando-as às primeiras letras, aos jogos e às cores, às actividades próprias daquelas idades.
Até que um dia os donos originais do imóvel requereram a sua posse de novo. Ao que sei, a questão arrastou-se nos tribunais por uns tempos até que regressou às mãos de quem o tinha possuído decénios a fio. E o infantário encerrou.
Encerrou mas os vestígios do que tinha ali acontecido não desapareceram. Que nas janelas foram ficando os bonecos recortados e colados pelas educadoras, que assim animavam as salas da pimpolhada.
É que, tendo recuperada a posse do prédio, os antigos e novos donos nada dele fizeram. Nem o habitaram, nem o venderam nem lhe deram outro uso. Continua ali quase como foi deixado aquando da saída do infantário.
E digo quase porque algumas mudanças aconteceram: A tinta foi caindo, o telhado foi metendo água, os vidros foram-se partindo e, para prevenir o pior, as janelas e portas foram fechadas por dentro com tijolos e argamassa. E do que se vê do pátio e acessos, difícil é chegar às portas, que o matagal tomou conta do espaço.
A única coisa recente que ali existe é um cartaz mal amanhado e, ainda por cima errado. Que, como se sabe, os imóveis não se alugam, arrendam-se.
Este é mais um monumento ao absurdo da cupidez de uns quantos que, na tentativa de se vingarem do que foi, preferem deixar apodrecer a que se lhe dê uso. Por muito útil e de serviço público que possa vir a ser usado.
E é assim que, na Vila de Sintra, Património Mundial, adulteram-se os equipamentos históricos e pouco cuidado se tem com os que lá vivem. Que é bem mais importante a receita que o turista possa deixar, mesmo que não tenha vontade de lá voltar!
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