sábado, 16 de fevereiro de 2008

Solidariedade

Solidariedade, s.f. Qualidade do que é solidário; responsabilidade mútua; reciprocidade de interesses e obrigações.
In: Dicionário da língua portuguesa, de Fernando J. da Silva



Terminado que foi o terceiro contrato a prazo, havia duas situações possíveis: a integração dos contratados nos quadros da empresa ou a sua dispensa definitiva.
A opção empresarial foi a de não integração. Tinham os três recebido, com a antecedência legal, o aviso de fim de contrato e, no último dia, foram contactados para o confirmar.
Em nada importou o seu bom desempenho profissional, quer na qualidade do trabalho produzido, quer na assiduidade e pontualidade, quer mesmo nas relações profissionais e pessoais, na horizontal ou na vertical. A política da empresa é o não aumento de quadros de pessoal e foi cumprida.
Acontece que, por ter sido o terceiro contrato consecutivo e não tendo sido integrados, a empresa vê-se no impedimento legal de contratar outras pessoas para desempenhar as funções por eles ocupadas e agora vagas. Pelo menos durante algum tempo, suponho que alguns meses.
Acontece também que a ausência destes três elementos, dois num sector, um noutro, causa graves prejuízos ao normal funcionamento diário, ficando cada uma das áreas com um número de efectivos inferior às necessidades do dia-a-dia. Para já não falar na questão de folgas, férias, baixas e trabalhos fora da rotina.


A proposta feita nos respectivos sectores foi a de os seus elementos aceitarem fazer horas extraordinárias e trabalho em dias de folga, suprindo assim as necessidades de produção, sem recurso a novos contratos. Pelo menos, suponho, até que se esgotasse o período findo o qual seria possível voltar ao sistema de contratos a prazo.
Num dos sectores, aquele de onde tinha sido dispensado um elemento, a resposta foi inequívoca: não! Não iriam trabalhar mais e nos seus tempos de descanso para evitar um novo contrato, mais para mais, obrigando a ficar no desemprego um companheiro de três anos de labuta. Resultado: passados poucos dias o referido elemento estava de volta, desta vez com contrato sem termo e integrado nos quadros. O futuro sorri-lhe, em principio!
No outro sector a proposta foi aceite de bom grado. Durante algum tempo os salários serão acrescidos de numerosas e apetecidas horas extras, ganhar-se-há dias para compensar mais tarde, aumentando o tempo de férias. A família que aguente um pouco, que é para engrossar o pecúlio! E nada importante é que, para estes ganhos extras, fiquem dois companheiros de longa data no desemprego. Pois que o que importa é vir trabalhar em folga e disputar esses dias e o respectivo pagamento com os colegas.

Este tipo de comportamento e forma de estar em grupo foi um dos principais motivos que me fez mudar de carreira e dou-me por feliz por o ter conseguido antes desta situação. Que não responderia pelos meus actos se ainda ali estivesse agora.
Mas fico envergonhado por dizer que esta história se passa na mesma empresa onde ganho o meu pão honesta e solidariamente. O mesmo pão que o D. e o J. deixaram de ganhar.
Os olhos que aqui vedes são de quem ficou no desemprego por falta de solidariedade!


Texto e imagem: by me

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