Esta
é uma história de sobrevivência. Ou de teimosia, se preferirem.
Há
oito meses que esta sandália jaz na linha de caminho-de-ferro. Na estação do
meu bairro.
Começou
por estar orgulhosa e imaculadamente colorida bem no meio dos carris e, por via
das deslocações de ar dos comboios que não param ou empurrada para o lado por
quem vai limpando o local, foi-se chegando, chegando, chegando, até atingir o
limite do movimento possível: encostada à parede.
Começam
agora as ervas a crescer-lhe em redor e a ficar coberta pelos demais resíduos
que por aqui vão surgindo.
E
eu, caçador fotográfico de uma espécie em vias de extinção (sapatos abandonados
na rua) não consigo deixar de para aqui olhar de cada vez que subo a cais. Ou
seja, todos os dias. Sempre na expectativa de saber se esta minha amiga
conseguiu sobreviver mais um dia, à revelia das limpezas de via e das intempéries.
Quando
o curso normal da vida suburbana nos afastar de vez terei pena. Que o fim de um
sobrevivente é o prenúncio do fim de algum outro.
By me
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