quarta-feira, 26 de junho de 2013

Sem enfeites



Alguém comentou que “isso ninguém tem o direito de fazer”.
Isto sobre escritos nas paredes ou graffitis.
Vejamos o que é “Ter o direito de…” na actual sociedade:
Gente a passar dores e sofrimento, mesmo que na infância, porque não há meios para tratamentos.
Gente que toda a vida pagou, obrigatoriamente, um contrato de reforma com o Estado e este, unilateralmente, altera os termos desse contrato, pagando menos que o combinado.
Ver crianças e adolescentes saírem de casa para a escola de barriga vazia, à espera do almoço a meio do dia, porque essa será a única refeição completa que terão de segunda a sexta. Que ao sábado, domingo, feriados e férias não há aulas.
Ver painéis publicitários, anunciando electrónica de consumo, jóias ou passagens aéreas de turismo, bloqueando a passagem a deficientes motores ou visuais. E pagando as respectivas licenças camarárias.
Ver gente com diferendos legais com grandes empresas ou o Estado, perderem as causas porque não têm como pagar advogados especialistas em retorcer as vírgulas da lei.
Ver gente, com crianças pequenas pela mão, numa fila já depois do sol pôr e ao frio, para receber um saco de comida que não têm como aquecer durante toda a semana.

Quando ninguém tiver o direito de viver isto, quando ninguém for obrigado a viver isto, fará todo o sentido que os protestos se façam em exclusivo pelas vias legais, parlamentares e policiadas.
Até lá, todas as vias serão válidas, mesmo aquelas que estão subjacentes ao ditado popular “Os fins não justificam os meios”.
Porque, entenda-se, o que realmente incomoda nos escritos públicos nas paredes, mais artísticos ou meros rabiscos, é o carácter permanente das mensagens subversivas que possam conter. Que as manifestações funcionam a prazo, depois de eleitos os políticos agem em função dos seus próprios interesses e os referendos não têm carácter vinculativo. Mesmo a comunicação social é manipulavel em função dos poderes instituídos, vergando-se a partidos e audiências.  
O grave problema está em que este género de contestação perdura até que a pintem por cima, mantendo acesa a chama que o poder, conservador por natureza, faz questão de apagar.

A contestação subversiva não é “A” solução. É “um” meio!

By me

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