Foi uma sensação
estranha. Confesso que foi. A raridade das reacções foi mesmo estranha, a ponto
de merecer um reparo como este.
De manhãzinha, na
hora de ponta de entrada na grande cidade, a caminho de mais um dia de labuta.
Subo para o
comboio e, surpresa, encontro gente conhecida e ficamos na palheta. O texto que
haveria de fazer para leitores americanos fica para segundas núpcias.
Algures antes de
metade do caminho, parados numa das estações, somos avisados pelo maquinista
que havia uma avaria na sinalização e que teríamos que aguardar. Mau!
Eis que chega
outra composição, que fica na linha do lado e que se imobiliza com o mesmo
aviso. Muito mau!
Conversa com um
dos revisores e ficamos a saber que a avaria é geral e que todas as linhas
estão paradas. Algumas composições mesmo entre estações. Péssimo!
A chegada a tempo
do início da jornada está mais que comprometida. No meu caso, consigo imaginar
o granel que iria provocar nos estúdios.
Decido-me p’la
alternativa possível: tomar um táxi e seguir directo. Desafio a minha companhia
para vir comigo, que aceita.
Mas, entre sair da
estação e chegar à praça de táxis, vou avisando quem estava à espera, quem sabe
se em tão maus ou piores assados que nós, que vou para Lisboa e tenho lugar
para dois. Ainda na estação, uma senhora aceita a oferta. Já na praça, uma
outra também.
Fizemos a viagem,
na via de entrada da cidade congestionada como de costume. E foram saindo do
táxi onde possível, de acordo com o meu itinerário e os transportes
alternativos que encontrámos no caminho.
Uma delas, a que
já estava na praça, ofereceu-se para pagar uma parte da corrida, o que acabei
por aceitar. Ao fim e ao cabo, sempre é uma corrida cara e, desta forma, ficou
mais barato aos dois.
O que foi
realmente raro, a ponto de merecer reparo foi:
A – Ter havido
quem tivesse aceite a boleia. De todas as vezes, e muitas foram ao longo dos
anos, em que assim procedi, quase sempre viajei sozinho. Não sei porquê, a
desconfiança tem vindo a instalar-se e é cada vez mais raro haver quem aceite,
a troco de nada, uma oferta destas;
B – Que uma das
passageiras tivesse querido comparticipar. Cada vez mais há quem trate de
aproveitar eventuais borlas, sem querer fazer algo em troca.
Como disse, esta
prática tem, comigo, tantos anos quantos a revolução portuguesa. Por esses
tempos as greves de transportes sucediam-se e o táxi foi sendo a minha
alternativa. Sempre com esta oferta de boleia.
Hoje, vivendo fora
da grande cidade, as corridas são bem mais caras e fujo delas. Tal como as
aceitações vão rareando.
Mas, com ou sem
gente que queira partilhar de uma boleia gratuita e enquanto me for possível
oferecê-la, continuarei a fazê-lo.
É que, no fim de
contas, os umbigos dos outros são bem mais interessantes que o meu. E há pouco
que se compare com a sensação do dever cumprido.
Boleias? Darei
sempre!
By me
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