segunda-feira, 13 de maio de 2013

Viva quem faz!




Este pedaço de rua faz parte do meu trajecto diário no ir de casa p’ro trabalho e vice-versa.
A descer ainda fresco, a subir no fim da jornada. Coisas.
É neste trajecto que encontro alguns dos sapatos que vou fotografando, bem como outras invulgaridades, que só o são para quem não vai observando o que o cerca.
Esta montra já foi uma loja, talvez mais, já não sei de que negócios. De há uns tempos valentes a esta parte é um centro comunitário, aberto a todos mas com principal incidência a islâmicos, com apoio judiciário, aprendizagem de português, aprendizagem de língua árabe, apoios profissional e de emprego… um pouco de tudo p’ra quem veio p’ra cá à procura de uma vida melhor.
E, de manhã, é hábito ver um ou mais sacos de plástico, bem atados como se de lixo se tratasse, à sua porta. Ainda antes de ela se abrir.
Não se trata de lixo, felizmente.
Espreitando através do fino invólucro, o normal é encontrar roupas. Aparentemente lavadas e usáveis. Tal como sapatos. E enlatados. E sacos de arroz. E garrafas de óleo alimentar. E leite. E… já lhe perdi a conta, à lista.
Gente há que sabe que neste espaço se junta outra gente em situação de grande aflição: cultural e material.
E, no anonimato da noite, sem gabarolice ou esperar que lhe estiquem a mão, aqui vem deixar a sua contribuição.
Igualmente sintomático, é nunca ter visto ninguém a revolver os sacos, ou mesmo a afastar-se com um deles na mão.
Note-se que se trata de um bairro suburbano, com uma quota-parte de desemprego bem maior que a grande cidade, com representantes de todos os continentes, cores, culturas e religiões.
Mas, apesar de todos os rumores e suspeitas, os sacos existem. E ficam!

Como diz alguém que conheço e estimo:
“Viva quem faz!”


By me

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