segunda-feira, 20 de maio de 2013

Na noite




Tentando evitar os engarrafamentos óbvios do pós-jogo, o meu trajecto acabou por me levar ao centro da cidade.
Sabendo que o resultado não tinha sido favorável aos alfacinhas, não estranhei, aliás gostei, ver a tranquilidade que, p’las nove e pouco da noite, se via por aqui e se presumia haver lá mais em cima, na praças das festividades desportivas.
Mas foi tranquilidade de pouca dura.
Em olhando em redor e com mais atenção nesta praça central da cidade, constato uma enorme, mas enorme mesmo, fila de gente. Centenas de gente alinhada. Quase pareceria que estavam a distribuir quaisquer bilhetes gratuitos para um qualquer evento de sucesso. Erro meu.
O evento seria de sucesso, mas não havia bilhetes nem seria gratuito. Tratava-se da fila de gente para uma qualquer gala de uma qualquer conjugação televisiva e revista cor-de-rosa.
Fui acompanhando a fila.
Caramba! Não me recordo de ter visto tantos decotes generosos mais ou menos tapados por vida do frescote que se sentia, acompanhados de saias que poupavam trabalho a quem viesse limpar a calçada. Tal como não me recordo de ter visto tantas gravatas de borboleta e fatos acetinados por metro quadrado. Já nem quero falar nos quilos de cosméticos que se juntariam se se lavassem todas aquelas caras nem do brilho quase ofuscante das pedrarias (verdadeiras ou não) a par das lantejoulas, sob os sempre iguais e modestos candeeiros de rua.
Lá mais p’ra frente, iniciava-se a passadeira vermelha, com direito a luzes de ribalta ou outras bem no alto de tripés de iluminação e respectivos balastros no solo. Apesar de tudo isto, cada par parava no local previsto para as fotografias de circunstância feitas com flash, de braço discretamente dado como devem recomendar as regras de etiqueta do jet set.
Em redor, borboletavam os caçadores de autógrafos, bem mais modestos no trajar, mas tão sequiosos de serem vistos com as celebridades quanto, eventualmente, ficarem com uns rabiscos num caderninho de colecção.
A segurança, essa, fazia o seu papel, quer a pública quer a privada, de mistura com os não fardados que, por isso mesmo, não se identificavam.
Rivalizava aquela celebração privada com qualquer futebolística, incluindo não um camião colorido mas os luxos dos potentes carros e o comprimento de algumas limusines.
Do outro lado da praça dos Restauradores, p’la avenida acima e, mais abaixo, no Rossio, já se viam os que já se iam ou já tinham acolhido em vãos de escada para pernoitarem.


By me

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