domingo, 18 de abril de 2010

O retrato


Quem é a criança? Pouco importa, pelo menos aqui. É o filho de uns amigos com quem dei um passeio de domingo de tarde.
A dado passo, numa esplanada estrategicamente coberta e protegida da chuva, parámos para um café.
O garoto, com pouco mais de dois anos, chorou de birra, já nem sei porque motivo.
E eu, fotógrafo de serviço, não perdoei! Se estava a fazer o registo da tarde, o choro não poderia faltar!
Mas quando, um pouco mais tarde e as lágrimas secas ao invés dos bancos à chuva, quis ver as fotos feitas, parou por muito tempo a ver esta. E ficou, e ficou, e ficou, ainda que fosse ele que as fosse avançando no visor da câmara.
Criança nascida na era do digital, fotografia incluída, está mais que habituada a ver imagens suas, que quem tem uma câmara fotografa criança.
Mas, estou em crer, que nunca se tinha visto a chorar.
Durante aqueles longos segundos em que ele se viu assim, lembrei-me de um pedaço do filme Yi Yi, de Edward Yang, premiado em Cannes: um garoto, aí dos seus 8 ou 9 anos, oferece a seu tio uma fotografia da sua nuca. E afirma: “Para que vejas aquilo que de ti não consegues ver”.
Não sei em que medida este retrato deste garoto o marcou. Mas daria bom dinheiro para saber aquilo em que pensava enquanto o via!

Texto e imagem: by me

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