sexta-feira, 30 de abril de 2010

Medos


Botas pseudo-militares, impecavelmente limpas. Calças de ganga, clara, com estéticos rasgões de fábrica. Casaco de cabedal (talvez) preto. T-shirt preta, um número abaixo do seu tamanho, deixando em evidencia os músculos abdominais e peitorais, talvez cuidadosamente produzidos nalgum ginásio. Cabelo curto, mas não rapado, espetado e sem gel. Barba igualmente preta, d três ou quatro dias e bem recortada. Dependurado do lóbulo esquerdo, uma argola prateada, com uns três ou quatro centímetros de diâmetro. Em ambos os ouvidos uns “phones” prateados, cujo som emanado não transbordava para o exterior. Displicentemente pendurada da esquerda das calças, uma corrente, grossa, fechada com um mosquetão igualmente sólido.
Quando de pé na gare, à espera como outros do comboio, os seus polegares espetavam-se no cós das calças, deixando os braços bambolearem-se com as passadas ritmadas e decididas.
O seu olhar era duro! Duro e intimidativo! Duro, intimidativo e espreitado por entre as pálpebras semi-cerradas.
O seu quarto de século, mais coisa, menos coisa, transbordava de afirmação, de afirmação de grupo, gritava por um lugar ao sol, algures entre a violência que alardeava e a insegurança por ela escondida, mas mal.
De alguma forma lembrei-me dos peixe-balão, frágeis e inofensivos, que incham quando se sentem ameaçados. E tive pena deste tipo, em confronto permanente com o mundo em que se insere.


Texto e imagem: by me

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