A minha avó fazia o seu próprio pão.
Todas as semanas, à sexta ou sábado, já não garanto, lá ia ela depois de jantar para a casa de uma vizinha, lá ao fundo da estrada. Aí juntava-se com mais três ou quatro amigas e partilhavam o forno ali existente. Não que cada uma não tivesse o seu e a respectiva lenha. Mas, desta forma a entediante tarefa de amassar a farinha com a água, o sal e o fermento, o tempo de espera que levedasse bem como o de cozer era entremeado com as suas conversas. Bem mais que uma necessidade de alimentação, tratava-se de uma necessidade de comunicação!
Não sei como o faziam, se era da farinha, se do fermento, se das pedras do forno ou do tipo de lenha usada. A verdade é que, uma semana depois, aquele mesmo pão continuava comestível. Não tão macio quanto à saída do forno, mas suficientemente mole para que eu, catraio com uns 6 ou 7 anos, e eles, já velhotes e com problemas de dentes, o comêssemos tranquilamente.
Nos tempos que correm, qualquer tipo de pão, não importa onde comprado, será uma arma letal se arremessado à cabeça de alguém 3 dias depois de comprado!
Mas daquele forno comunal, por esta altura do ano, saía algo mais. Da mesma farinha, mas com o acréscimo de algumas ervas aromáticas, com dois ou quatro ovos com casca no seu interior, haveria de ser cozido o Folar. Uma espécie de pão doce, do qual se comiam fatias simples ou barradas com manteiga, que faziam as delícias de quem o provava.
E aquelas mulheres que partilhavam o forno e a água e o sal, recusavam partilhar a receita que cada uma usava no Folar, sendo um segredo bem guardado que nem no calor da lenha se desvendava.
Nunca tive oportunidade de comparar o que cada uma delas fazia. Mas aquilo que a minha memória me diz é que nenhum dos que agora se compram por aí, em pastelarias, cafés ou supermercados, chega aos calcanhares dos delas.
Tal como não era apresentado num prato de cartão, forrado com papel rendado. Haveria de ser na baixela do casamento, coberto com linho por elas bordado. Que, garantidamente, haveriam de ser lavados e guardados na arca ou aparador até ao ano seguinte, e nunca remetidos para um qualquer contentor de rua, junto com o celofane que o embrulhou e a etiqueta que o valorou.
Mas, se é certo que para o ano que vem não recordarei este aqui, que não seja pelo facto de o ter fotografado, é igualmente certo que não esqueço os que comi na minha meninice, com ou sem manteiga, ao pequeno-almoço ou ao lanche.
Texto e imagem: by me
Todas as semanas, à sexta ou sábado, já não garanto, lá ia ela depois de jantar para a casa de uma vizinha, lá ao fundo da estrada. Aí juntava-se com mais três ou quatro amigas e partilhavam o forno ali existente. Não que cada uma não tivesse o seu e a respectiva lenha. Mas, desta forma a entediante tarefa de amassar a farinha com a água, o sal e o fermento, o tempo de espera que levedasse bem como o de cozer era entremeado com as suas conversas. Bem mais que uma necessidade de alimentação, tratava-se de uma necessidade de comunicação!
Não sei como o faziam, se era da farinha, se do fermento, se das pedras do forno ou do tipo de lenha usada. A verdade é que, uma semana depois, aquele mesmo pão continuava comestível. Não tão macio quanto à saída do forno, mas suficientemente mole para que eu, catraio com uns 6 ou 7 anos, e eles, já velhotes e com problemas de dentes, o comêssemos tranquilamente.
Nos tempos que correm, qualquer tipo de pão, não importa onde comprado, será uma arma letal se arremessado à cabeça de alguém 3 dias depois de comprado!
Mas daquele forno comunal, por esta altura do ano, saía algo mais. Da mesma farinha, mas com o acréscimo de algumas ervas aromáticas, com dois ou quatro ovos com casca no seu interior, haveria de ser cozido o Folar. Uma espécie de pão doce, do qual se comiam fatias simples ou barradas com manteiga, que faziam as delícias de quem o provava.
E aquelas mulheres que partilhavam o forno e a água e o sal, recusavam partilhar a receita que cada uma usava no Folar, sendo um segredo bem guardado que nem no calor da lenha se desvendava.
Nunca tive oportunidade de comparar o que cada uma delas fazia. Mas aquilo que a minha memória me diz é que nenhum dos que agora se compram por aí, em pastelarias, cafés ou supermercados, chega aos calcanhares dos delas.
Tal como não era apresentado num prato de cartão, forrado com papel rendado. Haveria de ser na baixela do casamento, coberto com linho por elas bordado. Que, garantidamente, haveriam de ser lavados e guardados na arca ou aparador até ao ano seguinte, e nunca remetidos para um qualquer contentor de rua, junto com o celofane que o embrulhou e a etiqueta que o valorou.
Mas, se é certo que para o ano que vem não recordarei este aqui, que não seja pelo facto de o ter fotografado, é igualmente certo que não esqueço os que comi na minha meninice, com ou sem manteiga, ao pequeno-almoço ou ao lanche.
Texto e imagem: by me
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