Trabalhar em audiovisual, seja que suporte for, é um trabalho de equipa.
E a satisfação de cada um dos seus elementos é tanto maior quanto maior for a qualidade de cada um dos restantes. Tenham a função que tiverem.
Ao longo dos anos posso dizer que tive o privilégio de trabalhar com algumas das melhores que se foram organizando. Técnicos, criadores, realizadores e interpretes.
E um dos trabalhos que mais gozo me deu, e que ainda hoje me enche de orgulho de ter nele participado à minha medida enquanto operador de câmara, foi “Pau preto”. Uma peça de teatro televisiva, realizada por Oliveira Costa, em 1989.
Não apenas o resultado plástico nos proporcionou prazer em fazer como, ainda hoje, tenho satisfação em ver o seu resultado.
Mas, bem mais importante que isso, foi o facto de ter sido dos primeiros trabalhos neste país que abordou, de uma só vez, uma série de temas então tabus. E que ainda hoje o são, em parte:
Guerra colonial, descolonização, o êxodo de África, racismo, prostituição, homosexualidade…
E se os últimos três temas, de uma forma ou de outra, vão sendo abordados e a posição da sociedade portuguesa é cada vez mais tolerante e aberta, em relação aos primeiros nem tanto.
O peso na consciência que por cá grassa em relação à guerra, à forma como a descolonização foi feita e as suas consequências lá como cá, o problema do acolhimentos dos que de lá fugiram, e as recriminações de parte a parte, os dramas que se viveram no momento e à posteriori…
Tudo isto ainda não é assunto que se possa abordar à-vontade por cá que, tal como o pecado original, ainda há muitos o que evitam por traumas ou remorsos.
Apesar disso, em 1989 houve quem tivesse a coragem de não apenas o escrever como em aceitar passa-lo para suporte televisivo. E transmiti-lo.
Para essas pessoas, o meu aplauso.
E em particular para o seu realizador, Oliveira Costa, que soube dar forma magistral ao tema.
Aos que se derem ao trabalho de ver este vídeo note-se como, ao invés das tendências cinematográficas e videográfias de agora (e de então), a narrativa é feita não com recurso a mudanças de plano a cada dez ou vinte segundos, mas antes deixando os actores representar, movimentarem-se entre si e com a câmara, sendo esta ao mesmo tempo cúmplice e espectadora. Quanto tempo dura um plano? O necessário e suficiente para que a acção aconteça, explícita ou implícita.
“Pau Preto”, um trabalho que deverá constar nos anais da historia do audiovisual Português!
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