Logo à chegada constatei que havia coisas escritas no chão:
O jogo da macaca aqui e ali, a malha um pouco mais à frente, um outro que não identifiquei mais ao longe.
“Que bom”, pensei. “Andaram por aqui a fazer coisas para a garotada brincar. Pelo menos, enquanto o parque infantil não fica acabado nas suas obras. E central, que em redor do coreto o que não faltam são bancos para pais ou avós ficarem enquanto as proles em 1ª ou 2ª mão gastam as energias.”
Montei a banca e, mal tinha tido tempo de começar no meu deambular e no observar a luz nas folhas ainda incipientes, eis que entra pelo portão uma carrinha. Branca, de carga, com a caixa bem grande e fechada, tinha apenas como dizeres um pequeno dístico junto à roda da frente da esquerda “Departamento de polícia de Nova York”. Não acreditei e fiquei a ver no que aquilo ia dar. Aliás, não tinha mais nada que fazer, pelo que veria de qualquer forma.
Parando perto do coreto, sai de lá um homem, dos seus trintas e poucos, com a pele tisnada, a barba por fazer e um ar gingão. A fita colorida do porta-chaves da moda saía-lhe do bolso das calças e o cabelo preto e grande estava em desalinho.
Abrindo a porta da carga, retira uma mangueira e um bocal e liga-os a um ponto de rega.
“Olha, os jardineiros deixaram de andar fardados e andam motorizados. E bem montados!”
Mas o tipo nem se preocupou com a relva, arbustos ou outros vegetais. Acabou por trocar de mangueira, por outra mais comprida e, espanto o meu, começou a lavar à mangueirada os jogos feitos a giz no chão.
Não resisti, cruzei o largo e interpelei-o, na esperança de o fazer parar antes que tarde demais.
Perante a pergunta: “Quem o tinha mandado apagar aquilo”, respondeu-me em ar desafiador que “Eu os fiz, eu os apago! Há algum problema?”
Não esperando tamanha hostilidade, expliquei-lhe que era pena, que aquilo ali era bem útil para a pimpolhada brincar.
Já mais calmo, e enquanto os jorros de água retiravam o giz do chão, acabou por me explicar:
Fazia parte de uma equipa de produção cinematográfica que, na véspera tinham estado ali a rodar um filme. Tinham pago as autorizações ao município, mas este exigia que se deixasse tudo como tinha sido encontrado. Daí o ele ter que vir ali lavar aquilo. “Uma trabalheira e uma canseira, fazer num dia tão bem feitinho para desfazer no outro. Mas se não o fizer eles multam-nos!”
.
O que aqui vedes, por entre as sombras de uma árvore ainda despida de Março, é o que sobra da água que mandou para a valeta as brincadeiras infantis.
Obrigado Câmara Municipal de Lisboa, por fazer cumprir ao pé da letra os regulamentos e contratos. Espero que nenhum edil me peça para fotografar o seu filhote no Jardim da Estrela.
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