Posso dizer, sem parecer que me estou a vangloriar, que no fim de contas acabei por ter alguma sorte.
Nado e criado na cidade, cedo aprendi a viver entre o betão e os escapes, conhecendo as esquinas, as passagens, os cruzamentos, os trajectos dos autocarros.
Mas, por este ou aquele motivo, ainda consegui apanhar algum dos conhecimentos de aldeão. Não muitos, mas alguns.
E se foi coisa que aprendi cedo o fazer e usar uma fisga. Escolher a madeira biforcada, sem nós, não quebradiça ou flexível, com hastes direitas e abertas; a cortar certinho as câmaras de ar de bicicleta, que eram bem melhores que as de automóvel; a dar-lhes o nó certo, robusto e não volumoso; a cortar e ajustar o pedaço de couro (os calcanhares de sapatos velhos eram os melhores ou, em alternativa, o que sobrava dos sapatos de ginástica) onde a pedra iria aninhar-se antes de projectada…
E sabia fazê-las e sabia usá-las. Não sendo um mestre no tiro, saía-me menos mal e as latas iam caindo com frequência. Por vezes também os vidros, mas sempre por acidente, garanto. Em seres vivos, de duas ou quatro patas ou com penas, nunca atirei. Fiz várias coisas erradas e muito erradas na vida, mas esta não.
Hoje, quem quiser uma fisga basta passar por um armeiro, por uma grande loja de brinquedos ou, espantai-vos, por lojas de artesanato.
Já prontas, com os elásticos industriais colocados e simétricos, bastaria municiar, esticar e atirar. Mas não creio que estas fisgas de hoje, bonitas e torneadas na máquina, consigam fazer grande estrago, que a boca da forquilha é demasiado pequena. E recortadas com serra eléctrica de uma tábua de pinho, não creio também que se possa aplicar grande força nos elásticos. Pelo menos eu não arrisco, para minha própria segurança.
Mas aquilo que eu garanto, sem margem para erros, é que estas fisgas industriais não darão a quem as usar o gozo de as saber feitas pelas mesmas mãos que as manuseiam ou, em alternativa, terem sido sofrida e honrosamente ganhas em torneios de tiro à lata.
Mas também nenhuma delas dizia então “Portugal” de um lado e “Sintra” do outro. O mais que poderiam ter seria, gravado com a ponta do mesmo canivete que a montara, as iniciais do artesão.
Que há que ter orgulho no nosso próprio trabalho!
Nado e criado na cidade, cedo aprendi a viver entre o betão e os escapes, conhecendo as esquinas, as passagens, os cruzamentos, os trajectos dos autocarros.
Mas, por este ou aquele motivo, ainda consegui apanhar algum dos conhecimentos de aldeão. Não muitos, mas alguns.
E se foi coisa que aprendi cedo o fazer e usar uma fisga. Escolher a madeira biforcada, sem nós, não quebradiça ou flexível, com hastes direitas e abertas; a cortar certinho as câmaras de ar de bicicleta, que eram bem melhores que as de automóvel; a dar-lhes o nó certo, robusto e não volumoso; a cortar e ajustar o pedaço de couro (os calcanhares de sapatos velhos eram os melhores ou, em alternativa, o que sobrava dos sapatos de ginástica) onde a pedra iria aninhar-se antes de projectada…
E sabia fazê-las e sabia usá-las. Não sendo um mestre no tiro, saía-me menos mal e as latas iam caindo com frequência. Por vezes também os vidros, mas sempre por acidente, garanto. Em seres vivos, de duas ou quatro patas ou com penas, nunca atirei. Fiz várias coisas erradas e muito erradas na vida, mas esta não.
Hoje, quem quiser uma fisga basta passar por um armeiro, por uma grande loja de brinquedos ou, espantai-vos, por lojas de artesanato.
Já prontas, com os elásticos industriais colocados e simétricos, bastaria municiar, esticar e atirar. Mas não creio que estas fisgas de hoje, bonitas e torneadas na máquina, consigam fazer grande estrago, que a boca da forquilha é demasiado pequena. E recortadas com serra eléctrica de uma tábua de pinho, não creio também que se possa aplicar grande força nos elásticos. Pelo menos eu não arrisco, para minha própria segurança.
Mas aquilo que eu garanto, sem margem para erros, é que estas fisgas industriais não darão a quem as usar o gozo de as saber feitas pelas mesmas mãos que as manuseiam ou, em alternativa, terem sido sofrida e honrosamente ganhas em torneios de tiro à lata.
Mas também nenhuma delas dizia então “Portugal” de um lado e “Sintra” do outro. O mais que poderiam ter seria, gravado com a ponta do mesmo canivete que a montara, as iniciais do artesão.
Que há que ter orgulho no nosso próprio trabalho!
1 comentário:
A minha chegou a ter 35 marcas... :(
3 posts imediatamente visíveis é demasiado pouco. Porque não 30? Ou os de 1 mês?
JB
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