terça-feira, 24 de abril de 2018

Alarm




Há quarenta e quatro anos caiu o regime fascista português.
Terminou a polícia política, terminou a guerra colonial, passámos a ser livres de pensar, de falar, de agir, de reunir…
Atrás do militares, e sobrepondo-se a eles, a população portuguesa com mais ou menos conhecimento do que a atormentava, veio para a rua e tomou conta dos acontecimentos.
Engalanámo-nos com cravos, fomos exemplo para o resto do mundo e tivemos os contendores da guerra-fria de olho em nós, não fora alguma coisa “perigosa” acontecer.

Quarenta e quatro anos passados, esta data de “25 de Abril” mais não é que uma memória e a oportunidade de gozar um feriado, de preferência com uma ponte pelo caminho.
Muitos dos que a viveram perderam ou vão perdendo a energia, que quarenta e tal anos é muito tempo, os que a não viveram nunca sentiram o que ela, a revolução, significou.
É apenas mais um feriado, como o 1º de Dezembro ou o 10 de Junho: uns discursos, uns desfiles pitorescos, uns filmes evocativos e pouco mais.

Em boa verdade, mais não deve ser.
As revoluções têm o seu tempo e os seus revolucionários, há coisas que têm que ser mudadas e evitado o seu retorno. Que raramente volta. Da mesma forma!
Mas o espírito que a alimentou, o que fez milhões de portugueses saírem para as ruas, rindo, batendo palmas e chorando de alegria, esse deve ser mantido vivo!
O desejo de que as “classes sociais”, a terem que existir, não estejam tão separadas, que a fome de barriga, de coração e de cabeça não mais retorne, que a sociedade seja solidária por inteiro… Tudo isto deve continuar vivo em cada um.

Mas não está!
Aqueles que mantêm os cidadãos vivos e produtivos fazem-no, as mais das vezes, para que o resultado dessa produção se reflicta, em primeiro lugar, nas mais valias que esses mesmos desejam. E, para tal, aqueles que para eles trabalham têm que se manter em forma e alimentar a produção e a novel competitividade.
A polícia política, enquanto tal, terminou. Mas temos as novas formas de controlo, com as bases de dados incontroláveis nas mãos não se sabe de quem, as intercepções ao tráfego electrónico, a localização dos cidadãos pelo seu telefone móvel, as câmaras de vigilância, a comunicação social veneranda e obrigada aos interesses dos seus empresários, ignorando a nobre tarefa dos media…
O acesso ao ensino superior é generalizado e incentivado, para depois os seus alunos irem fazer qualquer coisa que nada tem a ver com o que estudaram e aprenderam.
O acesso aos cuidados de saúde é cada vez mais difícil e caro, sendo o próprio estado, pelos seus governantes que supostamente representam a vontade popular, a incentivar o recurso aos meios privados.
Aumenta o número de horas de trabalho, diminuindo, em contrapartida, o valor hora que é pago aos que as trabalham.
Cada vez mais a sociedade está virada sobre o seu próprio umbigo, ignorando ou fazendo por ignorar o que se passa ao lado e o termo “solidariedade”!

Por isso, festejar o 25 de Abril pouco mais será que honrar a memória dos que o fizeram. Porque o seus espírito, está morto e enterrado. Ou, na melhor das hipóteses, moribundo!
Pela parte que me toca ainda não sei se o irei festejar. Não por desprezo aos que o fizeram, mas antes porque talvez esteja bem ocupado a tentar preparar um 26 de Abril, 18 de Maio, 29 de Agosto ou qualquer outra data que mereça ser comemorada por mais uns quarenta e tal anos.

Porque ainda acredito que “O povo é quem mais ordena”! E neste momento não consegue ordenar coisa alguma! Apenas julga que sim!



By me

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