Há quarenta e quatro anos
caiu o regime fascista português.
Terminou a polícia
política, terminou a guerra colonial, passámos a ser livres de pensar, de
falar, de agir, de reunir…
Atrás do militares, e
sobrepondo-se a eles, a população portuguesa com mais ou menos conhecimento do
que a atormentava, veio para a rua e tomou conta dos acontecimentos.
Engalanámo-nos com
cravos, fomos exemplo para o resto do mundo e tivemos os contendores da
guerra-fria de olho em nós, não fora alguma coisa “perigosa” acontecer.
Quarenta e quatro anos
passados, esta data de “25 de Abril” mais não é que uma memória e a
oportunidade de gozar um feriado, de preferência com uma ponte pelo caminho.
Muitos dos que a viveram
perderam ou vão perdendo a energia, que quarenta e tal anos é muito tempo, os
que a não viveram nunca sentiram o que ela, a revolução, significou.
É apenas mais um feriado,
como o 1º de Dezembro ou o 10 de Junho: uns discursos, uns desfiles pitorescos,
uns filmes evocativos e pouco mais.
Em boa verdade, mais não
deve ser.
As revoluções têm o seu
tempo e os seus revolucionários, há coisas que têm que ser mudadas e evitado o
seu retorno. Que raramente volta. Da mesma forma!
Mas o espírito que a
alimentou, o que fez milhões de portugueses saírem para as ruas, rindo, batendo
palmas e chorando de alegria, esse deve ser mantido vivo!
O desejo de que as
“classes sociais”, a terem que existir, não estejam tão separadas, que a fome
de barriga, de coração e de cabeça não mais retorne, que a sociedade seja
solidária por inteiro… Tudo isto deve continuar vivo em cada um.
Mas não está!
Aqueles que mantêm os
cidadãos vivos e produtivos fazem-no, as mais das vezes, para que o resultado
dessa produção se reflicta, em primeiro lugar, nas mais valias que esses mesmos
desejam. E, para tal, aqueles que para eles trabalham têm que se manter em
forma e alimentar a produção e a novel competitividade.
A polícia política,
enquanto tal, terminou. Mas temos as novas formas de controlo, com as bases de
dados incontroláveis nas mãos não se sabe de quem, as intercepções ao tráfego
electrónico, a localização dos cidadãos pelo seu telefone móvel, as câmaras de
vigilância, a comunicação social veneranda e obrigada aos interesses dos seus empresários,
ignorando a nobre tarefa dos media…
O acesso ao ensino
superior é generalizado e incentivado, para depois os seus alunos irem fazer
qualquer coisa que nada tem a ver com o que estudaram e aprenderam.
O acesso aos cuidados de
saúde é cada vez mais difícil e caro, sendo o próprio estado, pelos seus
governantes que supostamente representam a vontade popular, a incentivar o
recurso aos meios privados.
Aumenta o número de horas
de trabalho, diminuindo, em contrapartida, o valor hora que é pago aos que as
trabalham.
Cada vez mais a sociedade
está virada sobre o seu próprio umbigo, ignorando ou fazendo por ignorar o que
se passa ao lado e o termo “solidariedade”!
Por isso, festejar o 25
de Abril pouco mais será que honrar a memória dos que o fizeram. Porque o seus
espírito, está morto e enterrado. Ou, na melhor das hipóteses, moribundo!
Pela parte que me toca
ainda não sei se o irei festejar. Não por desprezo aos que o fizeram, mas antes
porque talvez esteja bem ocupado a tentar preparar um 26 de Abril, 18 de Maio,
29 de Agosto ou qualquer outra data que mereça ser comemorada por mais uns
quarenta e tal anos.
Porque ainda acredito que
“O povo é quem mais ordena”! E neste momento não consegue ordenar coisa alguma!
Apenas julga que sim!
By me
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