Li por aí algures as seguintes palavras:
“A minha mãe ensinou-me assim: quando atravessamos uma rua e
o condutor do carro que vai passar pára para nós atravessarmos, nunca
agradeças. É obrigação do condutor parar. Os peões têm prioridade. É um
direito. Um direito nunca se agradece.”
Parece certo, do ponto de vista legal, pese embora não tenha
carta e não conheça a fundo a lei.
Mas discordo! Nos conceitos e na prática!
Eu agradeço, com um gesto de mão ou um aceno de cabeça,
quando me cedem a passagem. Tal como agradeço quando me entregam o café que
pedi ao balcão. Ou quando seguram a porta para eu passar. E dou a saudação à
entrada e à saída de uma loja. Até mesmo no corre-corre do trabalho faço
questão de dar a saudação aos colegas, tanto à chegada como à partida. Faço o
mesmo na portaria de onde trabalho, onde é feito o controlo de acesso às
instalações por agentes de uma empresa de segurança. Ou quando, bem cedo de
madrugada, me cruzo com o grupo de quem faz a limpeza do edifício onde
trabalho, que está a tomar um café e a ganhar coragem para limpar a sujeira que
os outros deixaram.
Não “tenho” que o fazer! Em parte alguma está escrito isso!
Mas um sorriso, um agradecimento, um tratamento
diferenciado, algo que faça cada um sentir-se especial e único (e não mais um
na multidão anónima) fará com que o dia comece, continue ou termine um nico
melhor, quebrando rotinas e incómodos. E fazendo, por vezes, despertar um ténue
sorriso em quem tem pela frente ou já carrega um dia chato, de problemas e
incómodos. Daqueles que todos nós conhecemos e dos que, felizmente, nem
desconfiamos.
Indo mais longe, e voltando ao atravessar as ruas, é banal
ser eu a ceder a passagem numa passadeira zebrada, sem semáforos. Recuo um
passo e faço um gesto (discreto ou bem amplo) para que o carro siga o seu
caminho. Faço-o quando se aproximam apenas um, dois ou três carros e constato
que tenho margem para passar eu depois. É que, queiramos ou não, 99,9% das
vezes é bem mais fácil esperar um peão 3 ou 5 segundos enquanto os carros passam
que eles se imobilizarem para de seguida retomarem a marcha.
Podemos ter a prioridade ou a prerrogativa da passagem. Mas
também temos o direito a ter um dia bom e tranquilo. E a obrigação de o
facilitar aos demais.
É nosso direito ter motivo – muitos – para sorrir na vida. É
nossa obrigação criar situações para que os outros o façam.
E, caramba, custa tão pouco!
Em tom de remate, recordo: saudar ou agradecer ainda não
paga imposto.
By me
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