Eu tinha tempo. Não estava ocioso, apenas a gozar a folga,
fazendo pequenas tarefas no bairro: tabaco, euromilhões, cafezinho, ver as montras
e pessoas…
Sem pressas, optei por ir onde não costumo, tentando tirar
partido do que via e ouvia. Com a câmara pendurada no ombro.
A primeira vez que ouvi estava pacatamente à espera que o
semáforo passasse a verde. Apesar de novos e velhos fazerem de conta de serem
daltónicos.
A segunda vez que ouvi estava a meio da passagem. E, tal
como da primeira, estranhei.
Na terceira já estava alerta e percebi, já no passeio onde
parara, a origem do som:
As rodas de automóvel passarem por cima desta garrafa de
plástico.
Ouvi mais algumas vezes, vendo o respectivo efeito, e decidi
fazer uma superficial estatística: em cada dez carros cinco passavam com duas
rodas em cima dela, dois só com uma, três não lhe tocavam.
Quando cheguei a quarenta viaturas achei que chegava. A
garrafa mantinha-se imperturbável naquele local, atropelada sistematicamente,
mas como que dizendo “Daqui não saio, daqui ninguém me tira!”
Deixei-a lá, trazendo o retrato de uma resistente!
By me
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