quinta-feira, 12 de abril de 2018

À prova de idiota




Uma das perguntas que oiço com mais frequência é “Que câmara recomendas?”
A minha resposta, se tenho alguma confiança com quem fala, é em regra algo deste género “Todas e nenhuma!”, seguida de umas perguntas “Qual o orçamento disponível, que tipo de fotografias queres fazer?”
É que tenho para mim que não há câmaras multi-uso, válidas para todas as circunstâncias. Multi-usos mesmo, quase perto da perfeição, só mesmo o canivete suíço e o isqueiro Zippo.
Do meu ponto de vista, a fotografia nasce dentro do fotógrafo, que vê com os olhos da cara e com os olhos da alma o que está à sua frente e imagina como quer que isso fique registado, usando para tal a ferramenta que possui. Neste processo, o conhecimento das capacidades da sua ferramenta – a câmara e o tratamento posterior – é vital!
Distâncias focais e de foco, profundidades de campo e sensibilidades, acesso e flexibilidade dos respectivos comandos, suporte final, peso, volume, sustentação…São estes alguns dos factores que condicionam o seu uso.
Para alguém que os não saiba, todas as câmaras são inúteis, caras e complicadas. Para quem os conheça e saiba tirar partido do que dispõe, todas as câmaras são boas.

Havia, em tempos recuados, um anúncio televisivo já não sei a quê que usava da seguinte frase “Não mate leões com fisga nem moscas com carabina!” No caso da fotografia, poderia eu dizer: “Não faça reportagem de guerra com view-camera nem macro de natureza com compacta!”
Mas não significa isto que não seja possível! Faz muito que não trabalho com grande formato e nunca estive em situação de conflito armado.
A fotografia que acompanha estas linhas foi feita há uns anos valentes com a já descontinuada Olympus Z3030, compacta de 3,3 MP, com uma objectiva zoom de três vezes e com todos os controlos manuais (tempo, abertura, foco, etc.) dependentes do uso de cinco botões. Mais ainda, a verificação manual de foco é feito no visor de LCD, sempre com uma aumento digital da imagem e um rigor muito pouco exacto.
No entanto, a familiaridade com a câmara permite ultrapassar a maioria das dificuldades. No caso, ela estava colocada num pequeno tripé quase de bolso, usando o meu chapéu como se pára-sol se tratasse e garantindo o foco com um metro articulado de carpinteiro, para obstar à falta de exactidão do visor.

Os fabricantes de equipamento fotográfico tentam simplificar os processos, compactando as câmaras e automatizando-as, criando os modelos a que chamaram de “Bridge” e, mais modernamente, “Mirrorless”. Criam aquilo a que eu chamo de  “CPI” (Câmaras à Prova de Idiota), em que os automatismos se substituem ao fotógrafo. Mas ainda não criaram um modelo de fotógrafo à prova de câmara.
Fotografar significa, antes de mais, conhecer o assunto e a ferramenta e antecipar o resultado final. O resto é uma questão de prática e de luz.
Divirtam-se e aproveitem-na bem – a luz!

By me

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