Ao contrário do que se possa pensar, a fotografia não tem
que ser explícita nem ter leituras implícitas.
A forma como materializamos o que sentimos – neste caso com
o registo lúmico – pode ser tão abstracto que apenas para o autor haja
correspondência directa.
Nem sempre para o autor é importante que o público interprete
o que fazemos de acordo com o que sentimos ou “vimos”.
Passe-se a enormidade da imodéstia das comparações, será que
a cantora Maria João se preocupa que os vocábulos que produz quando canta sejam
inteligíveis? Ou que Miró se preocupava que os seus pontos e traços tivessem um
entendimento “universal”. Ou Kandisky com os rectângulos e quadrados?
Bem sei que, na velocidade do consumo actual, aquilo que não
é perceptível em, no máximo, dois segundos, é rejeitado liminarmente. Que, para
além do que temos pela frente, há toda uma enormidade de outras coisas para
consumir, material ou emotivamente.
Mas eu não me entendo como fotógrafo. Já tive essa
veleidade, pese embora use a fotografia como suporte material. E, se
necessário, saiba usar a fotografia como forma de comunicação tradicional, em
linha com o consumo habitual.
Se tiver que usar uma classificação para o que sou, e se as
classificações forem importantes e servirem para algo, serei um iconógrafo.
Faço ícones do meu interior, usando a luz e o que com ela vejo e sou capaz de
registar.
Quanto ao resto, nem sempre estou preocupado que o público
entenda. Ou que consiga fazer uma ligação entre a minha alma, o ícone e o que
de concreto possa estar exibido.
Novamente, e num assombro de imodéstia, recordo-me de Weston
e dos seus “equivalentes”. Dificilmente as suas nuvens nos dirão hoje, tal como
então, o que lhe ia na alma quando as fotografou, imprimiu e exibiu, sem mais
explicações que um “equivalent # XX”. Mas eram equivalentes ao seu estado de
alma ou pensamentos, tal como argumentava.
Talvez que as redes sociais não sejam o local mais adequado para
tais fotografias. Mas, com elas, também não pretendo reconhecimento ou
interpretações.
Usando uma expressão de alguém que me é muito querido, são
um vómito, uma vontade incontrolável de materializar o que sinto, sem nenhuma
preocupação com interpretações ou “likes”.
Talvez que por isso raramente as publico ou mesmo as exibo
para públicos mais restritos.
By me
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