As sociedades desde sempre entenderam as sepulturas como
local “sagrado”, a proteger.
Quer seja pelo respeito pela “vida além da morte”, quer seja
porque se entende que o defunto não tem como se defender dos intrusos, quer
seja para garantir a tranquilidade do local onde a saudade e o desgosto dos
vivos pode ser expressa, a verdade é que se considera um crime, ou uma ofensa
grave, a perturbação dos cemitérios.
Censurada pela sociedade, criminalizada pela lei.
No entanto, pode perguntar-se até onde vai no tempo esse
respeito pelos mortos. Dez anos? Cinquenta anos? 1000 anos?
Isto a propósito de ter sido identificado o género dos
restos mortais de um egípcio.
Nas escavações de um túmulo encontraram uma sepultura onde
já só restava uma cabeça mumificada. Que foi levada, em 1915, para um museu nos
EUA. Só agora, mais de cem anos depois, foram capazes de saber se se tratava de
um homem ou de uma mulher.
Tiraram-lhe um dente e submeteram-no a testes científicos
para o saberem.
Suponho que, em havendo vida para além da morte, o antigo dono
daquela cabeça já se terá esquecido que a teve, passados que são mais de 4000
anos de a ter usado. Mas a pergunta fica no ar:
Qual o limite temporal para que a investigação ou profanação
de defunto deixe de ser considerado crime? Ou, vistas as coisas de outra forma,
pode a ciência (e a justiça, já agora) considerar-se acima das leis que querem
impor aos comuns cidadãos?
E, já que falo em “cidadãos comuns”, recordo algo que li
esta sexta-feira.
Sobre a situação no Brasil e da condenação e prisão de Lula
da Silva, os seus advogados apresentaram um último pedido de habea corpus. As
notícias deram-no como recusado mas vieram depois dizer que teria sido um
engano: Aquele pedido não deferido não seria sobre o caso de Lua da Silva mas
sobre um outro caso, de um cidadão comum.
Conclui-se daqui que há cidadãos comuns e os outros, os
excepcionais. E que os media, tal como a justiça, abordam uns e outros de modo
diferente. Com decisões, veredictos e divulgações diferenciadas consoante seja “comum”
ou “incomum”.
Gosto da venda da justiça, cheia de buraquinhos. E gosto da
imparcialidade jornalística, coxa e cambaleante. Tal como gosto de tantos a
dizerem “RIP”, mas só durante algum tempo. Depois disso, tanto faz!
By me
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