Eu gosto de escrever com caneta de tinta permanente.
Comecei a usar estas canetas ainda a aprender as primeiras
letras (e como regressavam a casa os dedos e a bata!) e fui mantendo o hábito.
E gosto delas com o aparo pouco visível, permitindo que a
mão a segure perto dele.
Por estranho que pareça, as que mais gosto são as mais
baratinhas, da Parker. Leves, com a tinta contida num cartucho descartável, não
fico particularmente triste se algum acidente ocorrer, desde fugas de tinta a
roubo ou queda.
Claro que os que me cercam não gostam muito deste meu gosto,
já que as canetas de tinta permanente são como as escovas de dentes: não se
emprestam.
Acontece que tenho um outro gosto ligado a estas canetas: a
cor da tinta. Não gosto de azul nem preto, o vermelho é socialmente reprovado e
o verde… Bem, um papel escrito a verde é estranho.
Por isso, prefiro o castanho próximo do sépia. Tem um menor
contraste na leitura quando usado em papel reciclado, mas é o que gosto de ver,
que querem.
O problema põe-se no facto de já não se encontrarem cartuchos
para estas canetas com a tinta de que gosto. A Parker já os fabricou mas agora
não.
Ainda pensei, na minha teimosia de usar o que quero e não o
que os fabricantes nos impõem, em fabricar eu a tinta. E andei a pesquisar um
nico o como fazer.
Até que uma mocinha de uma papelaria de shopping me deu a
solução: usar um cartucho vazio recarregado com tinta extraída de um tinteiro
usando uma seringa. Perfeito! Tenho usado o processo desde há anos e não
encontrei ainda uma falha.
Os únicos cuidados a ter prendem-se com as fugas que os
cartuchos, usados repetidamente, começam a ter e com a incapacidade em sugar das
seringas descartáveis ao fim de algumas vezes de usadas.
Tanto um como outro inconveniente são fáceis de resolver. E
haveriam de ver a cara de farmacêuticos quando peço seringas para encher a
minha caneta!
Todo este palavreado a propósito da atitude passiva da
generalidade das pessoas face às decisões dos fabricantes. De canetas ou do que
quer que seja.
Encolhem-se os ombros, resignados, quando desaparece um
produto de que se gosta, ou quando este é alterado. E mudam-se os hábitos de
vida e de consumo apenas porque algum industrial assim o decidiu.
A pergunta, pertinente, é simples: usam-se os produtos que
os fabricantes querem ou os fabricantes produzem o que nós queremos?
Por mim, não me conformo com os ditames nem da moda nem da
economia: procuro, afincadamente, usar o que quero e de que gosto. Nem que para
tal tenha que ser eu a fabricar! Ou encontrar criatividade nas soluções.
By me
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