terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Fast food, fast business, fast life



Não! Esta não é a minha versão fotográfica alusiva à fantástica cena na casa de hambúrgueres do filme “Um dia de raiva”.
Para quem não conhece, recomendo. O filme no seu todo e essa cena em particular. E bem mais do que ela nos conta sobre a sociedade de consumo. O que ela nos conta, directa ou indirectamente, sobre fotografia. Publicitária ou outra.
Vale a pena ver e parar para pensar, goste-se ou não de fotografia.
Mas esta fotografia em particular não se refere a isso.
Esta é uma fotografia da treta, feita com um telemóvel da treta, num restaurante da treta para ilustrar uma estória da treta.

Deu-me a fome. Era o fim da tarde e, não sendo ainda horas de jantar, não me apetecia um lanche convencional. Optei por um lanche ajantarado, numa loja de comida de plástico. Uma daquelas refeições que, e como alguém me disse uma vez, dura pouco.
Das muitas caixas onde fazer o pedido ao balcão, só duas estavam em funcionamento, apesar da quantidade de funcionários. Coloquei-me numa das filas, com uns quatro clientes à minha frente.
Ainda mal me tinha imobilizado e sou abordado por uma das funcionárias, fardada a rigor. Propunha-me ela fazer eu o pedido na caixa externa, bem mais rápida, e esperar ser chamado quando estivesse pronto.
“É obrigatório?”, perguntei.
O seu olhar bem demonstrou o inusitado da pergunta, e vacilou antes de responder:
“Não, mas é rápido e prático.”
“Então não quero, obrigado.”, afirmei, dando por concluída a conversa.
Pensei eu.
Que segundos depois a chamei e, de dedo em riste, expliquei-lhe:
“Um dos motivos pelo qual não quero usar essa caixa é que por cada cliente aí atendido é dado um passo para a redução de um posto de trabalho nesta casa. Talvez que o seu.”
A réplica deixou-me de “cara à banda”:
“Despedida serei eu se não andar a convencer os clientes a passarem para aquela caixa.” E afastou-se.
Eu, que fiquei sem resposta (o que não é fácil) quedei-me a pensar no episódio.

Mal vai a sociedade quando um ser humano, mesmo sabendo o mal que vai fazendo, prefere fazê-lo e continuar a fazer de conta que as consequências não lhe dizem respeito, tentando garantir a sua própria sobrevivência.
Esquecendo, no processo, que muitos outros fazem o mesmo e que, cedo ou tarde, chegará a sua vez de ser afastado.
A minha mão tem uma vontade incontrolável de aqui escrever uns valentes palavrões.

A minha caneta é que se recusa a derramar a tinta para que sejam legíveis.

By me

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