Vi-os à distância,
por entre os parcos arbustos do jardim por onde caminhava.
E eles também me
haviam visto, pelo menos um deles. Que, sentado no banco, me apontava a dedo e
dizia algo para os outros, que se riam a bom rir.
Quando passei por
perto esse, de barrete de lã preto na cabeça, chamou-me. E quis que confirmasse
junto dos demais que eu o havia fotografado, e à mulher, há uns anos e na outra
ponta do jardim.
Não me recordava
eu da fotografia em concreto, mas considerando o local e o descrito, as
probabilidades eram elevadas e concordei. E fiquei de a procurar nos arquivos,
de a imprimir e levar um destes dias. Amanhã, queria ele.
E, enquanto
terminava o seu almoço – bacalhau, couves e ovo cozido, comidos de uma
embalagem de alumínio com um garfo de plástico – os seus companheiros faziam
questão de evidenciar a garrafa de vinho que, de pé no chão, já ia em mais de
meio.
Afastei-me fazendo
questão que este almoço especial, num dia especial, acontecesse entre companheiros
de sorte ou infortúnio, pese embora a total ausência de privacidade de um banco
de jardim.
Quando o meu
deambular me trouxe de volta, ingerido que fora o café raro de encontrar nesse
dia, abordou-me de novo.
E contou-me que
era o engraxador ali do portão, que a reforma vai chegar em Janeiro e que, com
esses cinco mil euros vai poder, finalmente, visitar a família na Madeira. Que
o que por cá ganhava entre o varrer as ruas, carregar lixo e engraxar sapatos
nunca deram para muito. Mas que agora, depois do falecimento da mulher, tudo se
torna mais fácil. Ou mais difícil.
E entre o bom e
mau humor, vindos directos do gargalo da garrafa, fez questão de ser
fotografado com os companheiros, que dele se riam a bom rir mas que o
acompanharam na função. Até porque, neste dia especial, as roupas estavam
limpas, os cabelos lavados e as barbas feitas.
Ficou-me o encargo
de imprimir e levar as fotografias.
Que, espero, não
contassem vê-las aqui.
Se por outro
motivo não fosse, a privacidade de uma festa e almoço de natal, comido e bebido
num banco de jardim, é para manter a todo o custo.
Ficam, em
alternativa, com a imagem de alguns que no final desse dia tinham uma casa normal,
e não um qualquer vão de escada, a que regressar.
By me
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