domingo, 13 de dezembro de 2015

Inutilidades



Entrei naquela loja sabendo bem o que ela é: lojinha de inutilidades, virada para o turista e aproveitando as modas do mês ou do ano com os artigos que expõe.
Mas, ainda assim, entrei.
Gosto de olhar as lojinhas de inutilidades, as mais das vezes com vendedores do mesmo calibre: apelativos por fora mas com a mesma classificação dos artigos que possuem. Que nunca sei se, por mero acaso, não encontrarei um qualquer artigo passível de ser fotografado e dar origem a um textinho dos meus. Quanto aos vendedores, não estão à venda, mas sempre posso dar-lhes o mesmo destino, mesmo sem fotografia.

O artigo em causa interessou-me. Não discuti o preço, mas discuti a embalagem. A fragilidade implicava protecção no transporte e, naquela loja de inutilidades e inúteis, a utilildade de um artigo só existe até ao momento em que é pago. A partir daí, bem pode ser jogado fora.
A pergunta sacramental veio no acto de pagar: “Quer número de contribuinte?”
Dei-lhe a minha resposta típica, quase tão útil ali quanto os artigos que vendem, sobre facturas com número de contribuinte e polícias políticas.
A alteração às rotinas das inutilidades surgiu bem no fim, com um clássico da época: “… e tenha um bom natal!”
Hesitei! Qual das respostas se adequariam? Um inócuo e cortês “Obrigado, o mesmo para si”? Ou algo em discordância com o local e vendedores?
Poderia ser:
a) Você sabe se sou Budista e o natal nada significar para mim?
b) Você é um egoísta, ao só desejar UM natal feliz, quando o que eu lhe desejo é que todos os que vier a viver sejam bons!
c) Melhor seria festejar uma das quatro únicas festas anuais e transversais a todas as culturas e tempos, muito antes ainda de se ouvir falar de Moisés ou equivalente: o Solstício, que é coisa real e garantida, enquanto que a religião é mais uma questão de fé numa história que nos contaram em pequeninos.

Optei pela terceira e saí da loja com a certeza que os artigos que ali se vendem continuarão a ser inúteis. Já sobre aqueles dois ao balcão, mocinha e mocinho, percebi pelo olhar que se distanciaram um nico do que vendem.
A terceira, que cirandava pela loja e que ficara de parte a ver a conversa, sorria: já me conhecia, de me ter aturado umas duas ou três vezes.

O artigo em causa que veio comigo?
Não, não é este presépio de pretos, adquirido também ele numa loja de inutilidades e que já fechou faz tempo.

Mas é alusivo à época.

By me 

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