Entrei naquela
loja sabendo bem o que ela é: lojinha de inutilidades, virada para o turista e
aproveitando as modas do mês ou do ano com os artigos que expõe.
Mas, ainda assim,
entrei.
Gosto de olhar as
lojinhas de inutilidades, as mais das vezes com vendedores do mesmo calibre:
apelativos por fora mas com a mesma classificação dos artigos que possuem. Que
nunca sei se, por mero acaso, não encontrarei um qualquer artigo passível de
ser fotografado e dar origem a um textinho dos meus. Quanto aos vendedores, não
estão à venda, mas sempre posso dar-lhes o mesmo destino, mesmo sem fotografia.
O artigo em causa
interessou-me. Não discuti o preço, mas discuti a embalagem. A fragilidade
implicava protecção no transporte e, naquela loja de inutilidades e inúteis, a
utilildade de um artigo só existe até ao momento em que é pago. A partir daí,
bem pode ser jogado fora.
A pergunta
sacramental veio no acto de pagar: “Quer número de contribuinte?”
Dei-lhe a minha
resposta típica, quase tão útil ali quanto os artigos que vendem, sobre
facturas com número de contribuinte e polícias políticas.
A alteração às
rotinas das inutilidades surgiu bem no fim, com um clássico da época: “… e
tenha um bom natal!”
Hesitei! Qual das
respostas se adequariam? Um inócuo e cortês “Obrigado, o mesmo para si”? Ou
algo em discordância com o local e vendedores?
Poderia ser:
a) Você sabe se
sou Budista e o natal nada significar para mim?
b) Você é um egoísta,
ao só desejar UM natal feliz, quando o que eu lhe desejo é que todos os que
vier a viver sejam bons!
c) Melhor seria
festejar uma das quatro únicas festas anuais e transversais a todas as culturas
e tempos, muito antes ainda de se ouvir falar de Moisés ou equivalente: o Solstício,
que é coisa real e garantida, enquanto que a religião é mais uma questão de fé
numa história que nos contaram em pequeninos.
Optei pela
terceira e saí da loja com a certeza que os artigos que ali se vendem continuarão
a ser inúteis. Já sobre aqueles dois ao balcão, mocinha e mocinho, percebi pelo
olhar que se distanciaram um nico do que vendem.
A terceira, que
cirandava pela loja e que ficara de parte a ver a conversa, sorria: já me
conhecia, de me ter aturado umas duas ou três vezes.
O artigo em causa
que veio comigo?
Não, não é este
presépio de pretos, adquirido também ele numa loja de inutilidades e que já
fechou faz tempo.
Mas é alusivo à época.
By me
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