Era a véspera de
Natal e ele estava de regresso a casa.
O dia tinha estado
francamente tempestuoso e a noite, ainda que aparentasse estar calma, apenas
anunciava que a qualquer momento iria igualar o dia.
O caminho entre a
estação habitual e casa era longo e a subir. E boa parte dele desabrigado. O
risco de ser apanhado a meio caminho pela tempestade era grande e
desconfortável.
Decidiu optar pela
solução alternativa: desembarcar mais à frente, na estação seguinte, onde havia
uma praça de táxis. Sentado e protegido da chuva e do vento, chegaria a casa.
Mas era véspera de
Natal.
Os motoristas de
táxi estariam na missa do galo ou no aconchego familiar e nem um aparecia para
serviço. Nem mesmo a central telefónica atendia, que a telefonista deveria
também ter tido a noite livre.
A solução última
seria enfrentar a noite e a tempestade, se desabasse.
Na esquina surgiu
um. Um táxi. Um carro de praça. Uma viatura que o haveria de levar a casa.
Ocupado. E vinha de um outro concelho, não podendo ali recolher passageiros.
“Sorte a
daquele!”, pensou ele. “Safou-se!”
Minutos depois, já
com decisão da caminhada tomada mas não concretizada, eis que o táxi regressa.
Encosta da praça, abre a janela e pergunta ao solitário que ali aguardava por
um táxi que não havia:
“Vai para onde?”
Ele lá lhe
respondeu, sabendo que de pouco serviria. Aquele carro não podia, ali, recolher
passageiros. Manda a lei e a classe profissional é muito ciosa dos seus
territórios.
“Venha, que o
levo. Hoje, a esta hora, não consegue aqui apanhar um. Tem é que me dizer o
caminho, que não conheço esta zona.” E, já em trânsito, acrescentou: “E sempre
escuso de fazer todo o caminho para Lisboa vazio.”
Naquele ano, sem
barbas e disfarçado de motorista de táxi, o Pai Natal apareceu-me uma hora mais
cedo.
By me
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