Não ter carro ou
mesmo saber conduzir tem as suas consequências.
Por um lado
limita-nos na quantidade de lugares onde podemos ir por unidade de tempo, tal
como condiciona a logística das distâncias (pesos, volumes, dormidas se distâncias
muito longas…)
Por outro lado,
obriga-nos a usar os transportes públicos e a caminhar. O que faz bem à
sociedade e à saúde. Mas também nos permite – me permite – constatar bastante mais
em detalhe aquilo que nos cerca. Deslocamo-nos bem mais devagar, bem mais perto
do mundo e sem a necessidade de nos concentrarmos no acto de conduzir.
Por motivos de ordem
vária, de há uns tempos para cá passei a usar amiúde uma rota pedestre
diferente da habitual para chegar a casa. Salutar a vários níveis.
Pois esse caminhar
põe-me a passar à porta da esquadra da PSP cá da zona.
Edifício construído
de raiz para a função, que na altura teve direito a inauguração com pompa e
circunstância, e onde já tive a necessidade de entrar.
Como em qualquer
outra instalação do género, em passando a porta e o guarda-vento temos a sala
de entrada, em regra ampla o suficiente para acolher diversas pessoas, calmas
ou nem por isso, onde está o balcão onde se resolvem as primeiras questões.
Pois nessa sala,
nesta esquadra, neste bairro, existe uma gaiola. Grande, com talvez um metro de
largo com outro tanto de alto. Está encostada à janela e é bem visível do
exterior. Que foi assim que dela tive conhecimento, já de noite, um destes
dias. Bem evidenciada pelo contraste da luz interior com o escuro do exterior.
Esta gaiola é o
lar de um papagaio. Cinzento, de porte médio e, suponho, bem comportado ou ali
não estaria que os agentes não o quereriam. Aliás, creio que os agentes da polícia
não querem ter nada ou ninguém em gaiolas a menos que seja por motivos de força
maior.
O que acaba por
ter graça é que a gaiola está aberta em cima. De par em par.
E o belo do papagaio,
sem gaiolas, peias ou correntes, pernoita no cimo dela. Tendo uma visão do seu
mundo – aquela sala – sem que as grades se intrometam.
Não sei se isto
acontece assim por opção e prazer dos agentes desta esquadra ou se se trata de
uma mensagem subliminar muito bem engendrada.
Sei, isso sem
sombra de dúvidas, que não teria disto conhecimento se estivesse condicionado
pela “liberdade” de ter automóvel.
Na imagem? Um
pedaço de uma parede da minha própria casa, com a minha própria gaiola.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário