sábado, 5 de dezembro de 2015

Liberdades



Não ter carro ou mesmo saber conduzir tem as suas consequências.
Por um lado limita-nos na quantidade de lugares onde podemos ir por unidade de tempo, tal como condiciona a logística das distâncias (pesos, volumes, dormidas se distâncias muito longas…)
Por outro lado, obriga-nos a usar os transportes públicos e a caminhar. O que faz bem à sociedade e à saúde. Mas também nos permite – me permite – constatar bastante mais em detalhe aquilo que nos cerca. Deslocamo-nos bem mais devagar, bem mais perto do mundo e sem a necessidade de nos concentrarmos no acto de conduzir.
Por motivos de ordem vária, de há uns tempos para cá passei a usar amiúde uma rota pedestre diferente da habitual para chegar a casa. Salutar a vários níveis.
Pois esse caminhar põe-me a passar à porta da esquadra da PSP cá da zona.
Edifício construído de raiz para a função, que na altura teve direito a inauguração com pompa e circunstância, e onde já tive a necessidade de entrar.
Como em qualquer outra instalação do género, em passando a porta e o guarda-vento temos a sala de entrada, em regra ampla o suficiente para acolher diversas pessoas, calmas ou nem por isso, onde está o balcão onde se resolvem as primeiras questões.
Pois nessa sala, nesta esquadra, neste bairro, existe uma gaiola. Grande, com talvez um metro de largo com outro tanto de alto. Está encostada à janela e é bem visível do exterior. Que foi assim que dela tive conhecimento, já de noite, um destes dias. Bem evidenciada pelo contraste da luz interior com o escuro do exterior.
Esta gaiola é o lar de um papagaio. Cinzento, de porte médio e, suponho, bem comportado ou ali não estaria que os agentes não o quereriam. Aliás, creio que os agentes da polícia não querem ter nada ou ninguém em gaiolas a menos que seja por motivos de força maior.
O que acaba por ter graça é que a gaiola está aberta em cima. De par em par.
E o belo do papagaio, sem gaiolas, peias ou correntes, pernoita no cimo dela. Tendo uma visão do seu mundo – aquela sala – sem que as grades se intrometam.

Não sei se isto acontece assim por opção e prazer dos agentes desta esquadra ou se se trata de uma mensagem subliminar muito bem engendrada.
Sei, isso sem sombra de dúvidas, que não teria disto conhecimento se estivesse condicionado pela “liberdade” de ter automóvel.
Na imagem? Um pedaço de uma parede da minha própria casa, com a minha própria gaiola.


By me

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