sábado, 31 de outubro de 2015

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De tanto insistir, de tanto tentar, este governo conseguiu a precariedade total no emprego.

Ele mesmo é precário!
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Bruxas



Está muita gente entusiasmada com a noite das bruxas.
A maioria ignora a origem céltica de tal tradição e alinha quase que forçada nesta comemoração importada via cinema para gáudio das lojas de inutilidades.
Mas será pouco importante desde que se divirtam. Que a felicidade é a cereja no topo do bolo da vida.


Mas por mim, confesso, depois de ontem ter assistido a todas aquelas e aqueles bruxas, feiticeiros, endomoinhados e possuídos a prestar vassalagem ao demo-mor, não serão umas carantonhas feias, feitas de borracha ou silicone, que me irão tirar o sono.

By me 

Sombras



Aquilo que o Homem tem feito ao longo dos milénios é tanto e tão variado que seria fútil tentar saber tudo. No campo das artes, das ciências, do pensamento, nas evoluções e regressões sociais.
Perante a inutilidade de tudo tentar saber, resta a cada um de nós optar por saber aquilo que entende por importante para a sua vida. Profissional ou pessoal. E, igualmente importante, saber onde está o saber caso venha a disso necessitar.
Acessoriamente, as escolas orientam estes saberes e aprendizagens nos diversos campos, fornecendo ao estudante as bases daquilo que passarão toda uma vida a aprender.
Será papel do pedagogo escolher estes saberes básicos e disponibiliza-los ao estudante por uma ordem lógica, bem como o satisfazer das curiosidades que possam advir com os saberes adquiridos. Tal como deve permitir que o estudante saiba onde e como ir buscar mais saber ou conhecimento: bibliotecas, pessoas, web, museus, locais de investigação… Dizia alguém que, nos tempos que correm, o importante não é saber mas antes saber onde o saber está e querer ir buscá-lo.
Claro está que o que será básico num dado campo de actividade será não-básico, talvez mesmo supérfluo, noutros campos. E este é, também, o papel do pedagogo: definir e gerir prioridades na aprendizagem do estudante.
No entanto, saberes existem que são comuns a todas as vertentes do conhecimento básico. A tabuada, o primeiro rei da nacionalidade, o teorema de Pitágoras, o oceano que banha o seu país, a sua língua e uma língua generalizada… Talvez que não básicos para a actividade profissional, mas para viver integrado na organização social que o envolve.
Um destes dias constatei que um jovem com curso na área da comunicação audiovisual ignorava por completo o que fosse a “Alegoria da Caverna”. Sabia que Platão fora um filósofo antigo, ainda que não de que época ou civilização, mas não sabia nem o nome nem a história ou conceitos nela descritos.
Fiquei boquiaberto! Como é possível alguém ter uma formação profissional sólida neste campo sem conhecer os primórdios da sua criação, do seu pensamento, do conceito de realidade e representação?
Tratei de, em duas penadas, colmatar aquela falha, mas tive pena de quem me estava a ouvir. Não são coisas que se expliquem (ou se aprendam) em duas penadas. Até porque o saber necessita de ser digerido.
Mas fiquei a pensar que andamos a formar gente que saberá utilizar a ferramenta com que trabalha, mas que ignora os conceitos que lhe estão inerentes para além daquilo que vêem no ecrã do computador.
Pergunto-me o que irá acontecer a esta geração, quando já tiver a categoria de avós, bem como aquilo que será disponibilizado aos seus netos pelos pedagogos.

Talvez que só saibam reconhecer uma sombra e que desconheçam por completo o que seja tridimensionalidade ou cores.

By me

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Intervenção social



A farmácia estava cheia. Quando chegou a minha vez, pedi um banal “Aspergic”. Cá em casa a época das constipações já começou e eu já perdi duas narinas para ganhar duas torneiras. Escancaradas.
Não tinha receita, que nestas coisas não faz falta, nem quis o saquinho de papel onde quiseram colocar a caixa.
“Para que me vai dar isso se daqui a pouco, em tendo oportunidade, o deitarei fora? Só para fazer lixo?”
O tom foi suficientemente alto para que o cliente a meu lado ouvisse e esboçasse um sorriso. Vi-o pelo canto do olho, ao mesmo tempo que esperava a pergunta da praxe:
“E quer número de contribuinte na factura?”
“Olhe! A senhora não tem idade para isso. Mas se tivesse andado a fugir a uma polícia política não propunha isso!”
E acrescentei:
“Eu sei que tem que fazer a pergunta, mas eu tenho que passar o recado!”
O meu tom foi um tudo ou nada alto. O suficiente para sentir que as mãos paravam e as cabeças se viravam, nos diversos pontos de atendimento. Não por muito tempo, que o discurso foi curto, mas o suficiente para que o recado chegasse a mais de duas dúzias de orelhas.
À minha frente, a trintona de bata branca sorriu sem saber muito bem o que responder. Limitou-se a aceitar o meu dinheiro e dar-me o troco, que a caixa com o medicamento já estava na mochila.

Intervir na sociedade não passa apenas por actos eleitorais, cumprir ou redigir códigos civis ou fiscais ou desfilar em manifestações.
Intervir na sociedade é, acima de tudo, fazer passar mensagens, quer pelo discurso, quer pelo exemplo. E quanto mais insuspeito for o local e mais anónimo se for, mais facilmente a mensagem passa.

Se será ou não entendida ou seguida, isso já é outra questão.

By me

Felicidade



Este texto surgiu na sequência do meu projecto “Old Fashion”: Um photógrapho “à-là minuta” fotografa e oferece as fotografias a quem lho pede no Jardim da Estrela, em Lisboa.
As bem mais de um milhar de imagens feitas são, do ponto de vista plástico, monótonas, tecnicamente fracas e esteticamente desinteressantes. Mas este não era o meu objectivo.
Importante mesmo foram as poses assumidas pelos fotografados, as conversas tidas antes e depois, os “quem” e os “porquê” de se querem fazer fotografar.

Felicidade
O ser humano precisa de se afirmar no grupo a que pertence. Pelo que é e pelo que faz.
E um retrato, um registo para a posteridade, feito formalmente ou em tom de brincadeira, é uma forma de afirmação, objecto de observação e critica cerrada por parte do retratado.
Curioso é de observar quem se manifesta ou critica sobre o que é ou o que faz expresso em retrato. E são dois grupos, notoriamente distintos. A fronteira fica algures na casa dos quarentas, nuns casos mais acima, noutros mais abaixo.
No grupo dos mais novos, o que é observado e/ou criticado é aquilo que faz.
As poses, as expressões, as posições corporais, os relacionamentos com outros retratados.
O eventual – ou frequente – desagrado não se manifesta sob a forma de “não gosto” ou “fiquei mal”, mas antes pela ironia, pelos comentários jocosos, pela auto-critica. Frequentemente, com o menosprezo da sua própria aparência e uma crítica acutilante sobre os demais no grupo retratado.
Para estes, o que é importante num retrato não é o que são mas antes o que fazem e como o fazem.
Por seu lado, os pertencentes ao grupo mais velho preocupam-se francamente mais com o que são ou aparentam ser.
As manifestações de idade constatáveis pelo peso ou volume, pela posição do esqueleto, pela cor da pelagem ou pelas rugas são os factores que mais procuram ver num retrato, numa tentativa inútil de constatar que não parecem ser o que são. Que os olhos dos outros não vejam aquilo que sabem ser.
Estou em crer que a felicidade passa por uma sã convivência com o “Eu” físico, tentando melhora-lo se se o entender, mas não o negando ou repudiando.
E, acima de tudo, não ligando a mínima à opinião que os outros possam ter sobre si mesmo. Ao vivo ou no papel.


By me

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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Estou destreinado



Estou destreinado!
Há uns anos tinha uma margem de erro de dois segundos, ao contar mentalmente até dois minutos.
Constato hoje que tenho um erro de dois segundos ao contar até cinquenta segundos.
Estou destreinado.


Nota extra: um relógio redondo, visto ovalado. Mas eu não estou a vender relógios.

By me

Não gosto



Não gosto!

Não gosto de ter estas condições de luz ainda antes das 18 horas!

By me

Bonito



Segundo o que li, Portugal é o maior consumidor de peixe per capita da Europa.
Também é comum ouvir-se que o consumo de peixe é benéfico para o organismo em geral, incluindo o cérebro.
Ora uma das duas não é correcta!
A serem ambas certas, os portugueses deveriam ter demonstrado ao longo dos tempos muito mais inteligência.
E não o têm feito.


Nota fotográfica: A tal luz de que gosto. Junto a uma janela, de manhã, tendo por fundo um casaco preto ali pendurado na sombra. Com uma câmara de bolso.

By me

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

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Diz o título da notícia:
“Manual de educação financeira chega às escolas este ano”
No pequeno parágrafo que se lhe segue, acrescentam:
“Plano nacional de formação financeira aposta no primeiro ciclo. Resultado vai ser avaliado pelo ISCTE.”

Faz todo o sentido, considerando as linhas orientadoras dos actuais currículos escolares e afinados com a sociedade de “escravos” que estamos a preparar, dar mais atenção às questões financeiras que ao saber interpretar uma notícia, procurando confirmação noutras fontes e as causas do acontecimento.
Tal como não será de todo importante o preparar os jovens para saber “ler” uma imagem, separando o que é factual do que é manipulação.


Há muitas formas de analfabetismo, e não apenas a que defendia Salazar.

By me 

Apontamentos lúmicos na inutilidade das rotinas




E depois vêm falar-nos da fumaça dos automóveis!

By me

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Um mau líder de um grupo de trabalho é o que diz sempre “não” às sugestões ou opiniões dos seus liderados.
Mas também o que diz sempre “sim” a essas opiniões ou sugestões.
Tenho a desdita de conhecer de perto de uns e de outros.

E não sei quais os piores.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

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Com tanta liberalização disto e daquilo, queiramo-lo ou não, porque não se tira partido disso e não se despeja, com justa causa, os inquilinos de Belém e São Bento?
Motivos não faltam, à luz de qualquer lei:
Danos na propriedade alheia seria o mais óbvio.
Incumprimento contratual seria outro.
Uso distinto das instalações face à escritura também seria fácil de demonstrar.


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Leio um artigo de opinião onde está escrito “Marcelismo”.

Ai!!!!!

Outra vez não!
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Facto:




Por muito desarrumada, bagunçada mesmo, que esteja uma mesa de trabalho, há sempre um lugar seguro reservado para a caneca de café.

By me

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Sobre a notícia dos potenciais perigos das carnes processadas ou vermelhas, apenas me ocorre citar um velho compincha:


“A vida é sexualmente transmissível e fatalmente mortal”
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Big Brother



Apontamentos lúmicos na inutilidade das rotinas


O Grande Irmão vigia-te!

By me

Na carruagem, na noite



Regra geral, as pessoas sentam-se nos bancos dos comboios. As excepções acontecem quando já não há lugares vagos e há que viajar de pé.
Ou tratando-se de malta nova, que se senta onde calha, no chão, desde que esteja a conviver com amigos.
Outra excepção foi a que assisti hoje, ainda agora.

Chegando anormalmente rápido, num passo miudinho, sentou-se no chão, junto a uma das portas. E concentrou-se anormalmente na leitura de um folheto mais que amarrotado longitudinalmente, de uma grande superfície. Electrodomésticos, pareceu-me.
A magreza do seu corpo, reforçada pela extrema magreza do seu rosto, ainda que escondido por uma farta e cerrada barba negra, junto com a falta de higiene das roupas puídas e coçadas, não dava azo a dúvidas sobre o vício que o consome. Rapidamente.
Um minuto depois, um e meio, não mais, passa outro homem que percorria a carruagem em passo igual. Com igual aspecto, pelagem e higiene, variando apenas na altura: muita.
Parou à sua beira e estendeu-lhe um quase vazio pacote de bolachas. Maria, vi. E digo quase porque pude contar que ainda continha umas três bolachas. Tantas quantas as que ficaram de fora, na mão suja de quem oferecia.
O ruído do comboio e as conversas de jovens estudantes universitárias junto a mim não me permitiram perceber o que o sentado disse, olhando para cima. Mas o movimento dos seus lábios não me deixou enganar: “Obrigado”.
O que estava de pé seguiu o seu caminho, pelas coxias ferroviárias: passo curto e rápido, olhar de medo.
O que estava sentado levantou-se umas duas estações de pois, e saiu. Seria natural sair naquela estação desta linha suburbana. E, ainda que discreto, ia mordiscando uma das bolachas.


É sempre entre os que menos têm e mais dificuldades passam que se encontram os mais generosos actos de partilha.

By me

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Imagens mentais



Um dia perguntaram-me quais as minhas músicas preferidas. Ou autores. Ou intérpretes.
A música não é a “minha praia”, já que vivo mais com os olhos que com os ouvidos.
Mas certo é que quando estou “encalhado” com um assunto que não me está a correr como gostaria (no fazer de imagem ou no escrever) recorro a um autor/intérprete que sempre me ajudou nesses impasses: Bau.
Vou buscar um dos seus discos, ponho-o a tocar e recosto-me por um pedaço, deixando-me levar pelos sons e pelas imagens mentais que me proporciona.
Algum tempo depois, é pegar na câmara, na caneta ou no teclado e o trabalho flui-me.

Espero que todos tenham o seu próprio “facilitador de imagens”.

Seja qual for o suporte.

By me

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E quando é que eu sei que tenho motivos para fazer certas observações sobre o desempenho profissional de alguns jornalistas?
Quando eles deixam de me dirigir a palavra e nem sequer respondem a um coloquial “bom dia”.

É nessas alturas que tenho orgulho em ter a personalidade que tenho. O tal “mau feitio”.
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Sobre triângulos e estabilidade fotográfica



Um velho mestre e compincha de muitas andanças fotográficas costumava dizer que “Só há dois tipos de fotografias: as tremidas e as feitas com tripé!”
Claro que ele era especialista em usar de comparações extremas para fazer vingar os seus pontos de vista.
Claro que isto era dito numa época em que nem se falava em “full frame”.
Claro que isto era dito numa época em que não havia estabilizadores de imagem.
Claro que isto era dito numa época em que todos os que fotografavam sabiam a fórmula “O denominador da fracção de segundo do tempo de exposição usada não pode ter um valor absoluto inferior ao da distância focal empregue, sob pena de termos uma fotografia tremida se usada a câmara à mão”.
Claro que isto era dito numa época em que usar ISO 400 era o limite para evitar o grão na imagem.
Claro que isto era dito numa época em que os testes das objectivas e resoluções de películas eram feitos usando um bloco de cimento como suporte da câmara para evitar tremideiras no equipamento.

A tecnologia actual poderia tornar esta afirmação obsoleta e nada mais que divertida.
Mas há algo que a tecnologia não melhorou: o utilizador da câmara. E este, fiando-se na tecnologia, nas câmaras à prova de idiota, negligencia as regras ou práticas mais básicas, acabando por obter resultados no limiar do sofrível.
A quantidade de imagens tremidas ou menos nítidas que vemos nos tempos que correm acontecem exactamente porque, fiando-se nos estabilizadores de imagem e nas alterações de sensibilidade, se ignora que o ponto de partida é uma câmara estável.

O tripé é, sem dúvida, a solução universal. E, quanto mais sólido e pesado, melhor. E tanto que assim é que alguns fabricantes, usando de materiais mais leves e cómodos de transportar, acrescentam um gancho por baixo da coluna para que os utilizadores possam pendurar algo (regra geral o saco ou mochila) para aumentar o peso e respectiva estabilidade.
A alternativa, com limitações, será o monopé. Disse alguém, já não sei quem, que “Se não podes ter um bom tripé, usa um monopé”. Parece disparate mas não é. Um monopé não é auto-sustentavel, pelo que ao usarmo-lo temos cuidados extra com a estabilidade. Ajuda-nos mas apenas isso.
No campo das soluções de emergência, há sempre a possibilidade de recorrermos a apoios improvisados. Uma cadeira, um candeeiro de rua, o ombro de alguém, o velhérrimo “saco de feijões”… há inúmeras soluções de apoio da câmara que, não tendo a estabilidade de um bom tripé, podem melhorar o desempenho.
Indo mais longe, se soubermos um nico de física e fisiologia, entendemos porque é que a minha corrente de autoclismo (na imagem) funciona para nos ajudar a ter estabilidade para tempos um pouco mais longos.

Mas, e pondo de parte todos estes auxiliares de suporte, o certo é que a esmagadora maioria das imagens são feita à mão. E usando-a desta forma, ou bem que procuramos no nosso corpo a estabilidade possível, ou teremos excelentes fotografias tremidas.
O corpo tem que estar estável, com os músculos tranquilos. Se em esforço, garantidamente que trememos. As pernas meio flectidas são óptimos amortecedores instáveis, quais baloiços de criança, para fazermos imagens tremidas.
De igual forma, os braços abertos, com os cotovelos levantados que nem asas de pássaro, são uma óptima forma de tremermos. Nós mesmos e a câmara que seguramos.
E um vício velho, que nunca percebi de onde vem, é segurar a câmara com a mão direita, usando a esquerda para actuar nos anéis da objectiva por cima. Isto implica que apenas um braço pode estar encostado ao corpo e que o outro estará levantado, sem estabilidade.

Aquilo que aprendi há muito é que a câmara deverá estar apoiada na mão esquerda, por baixo. Na palma da mão, permitindo que os dedos possam actuar na objectiva. E com o cotovelo encostado ao corpo. Desta forma, criamos um triângulo com os nossos músculos e ossos, garantindo a estabilidade do corpo e, consequentemente, da câmara.
A mão direita, essa, fica livre para o disparo, braço igualmente encostado ao corpo, e para manusear os diversos botões da câmara.
Mas a solidez do conjunto fica assegurada pela esquerda, com o braço encostado ao corpo.

As pequenas câmaras de hoje, sem visor ocular mas apenas um ecrã electrónico, são perfeitas para imagens tremidas. Que as seguramos com os braços abertos e quase esticados.
Apesar de terem distâncias focais curtas devido ao pequeno tamanho do sensor, apesar de terem estabilizadores de imagem (na objectiva ou no sensor), apesar de as imagens resultantes serem vistas em tamanhos pequenos, onde a falta de nitidez se torna pouco perceptível, certo é que cada vez mais se fazem fotografias tremidas.


E é tão fácil evitar isso! Basta a posição corporal certa.

By me 

domingo, 25 de outubro de 2015

Porque ler é um prazer



By me

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Uma interpretação dos livros sagrados pode levar-nos à conclusão que o ser humano não deve ser vegetariano. Que isso é pecado.

É que, se no lugar de terem comido a maçã, tivessem comido a serpente…
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Vive cada dia como se fosse o último.

Um dia acertas.
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Ampulheta



Só para que conste:
Este é um relógio que não tive que acertar hoje.

E pouco importa se o vejo de frente ou de “ladecos”.

By me

sábado, 24 de outubro de 2015

Abuso



Ontem, na minha rua, surgiram alguns escritos como este nas paredes.
Não sei quem os fez e deduzo que terá sido gente nova, como é habitual.
Mas vou presumir que, e face à oportunidade de tal escrita, se trate de alguém com forte sentido político e social.

Porque uma afirmação destas, neste momento, só pode referir-se ao abuso das prerrogativas presidenciais a que assistimos esta quinta-feira.

By me 

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

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A quantidade de coisas de que não tenho a certeza é assustadora.
Assim, o mais que posso deixar aos outros é o absoluto das minhas dúvidas.
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Só para que conste:
Os frascos de tinta permanente que uso são de excelente qualidade.

Quando não, teria agora um soalho particularmente interessante do ponto de vista cromático.
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Há muitos anos que venho argumentando que “mais importante que os comos são os porquês”.
Aquilo que ontem me deixou estarrecido não foi a decisão: foram as justificações.

E aquele senhor vai ficar para a história. Não pelos melhores motivos.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Já é tempo de vir para rua e gritar



By me

Livres? Claro que sim!



Seja qual forma como tentemos abordar o tema, a verdade é que estamos sempre e eternamente presos.
Confinados a uma cela ou na superfície do planeta, com horários, cartões identificativos e códigos de conduta.
A qualidade da prisão é que varia. Alguns vêem no abrir da fechadura a sua liberdade, outros no vencer a atracção terrestre. Uma chave uns, asas outros. Há quem vá mais longe e não possua relógio ou recuse o bilhete de identidade.
Mas depois de cada fronteira, depois de cada quebrar de grilhetas, apenas constatamos que continuamos presos. Por outras grades, por outros conceitos, por outras obrigações.

Quando, há uns anos largos, conversava com um Argentino, logo a seguir à guerra das Malvinas ou Faulkland, dizia-me ele: “Nós? Somos livres! Podemos sair à noite e tudo!”
Ou ainda aquele outro jovem que dizia: “Esta semana estou livre. Os meus pais vão de férias para fora.”

Mas a liberdade não é um estado legal ou material. É um estado de espírito!
O exercício da liberdade começa, antes de mais, dentro de nós. Por aceitarmos ou não por limite o que nos impõem. O deixarmos ou não a nossa mente vogar e decidir o que fazemos. O termos ou não uma verdadeira consciência de nós mesmos e do que nos cerca.
A nossa verdadeira prisão somos nós próprios, na nossa condição de seres humanos de carne, osso e sangue. Pensantes e conscientes.

Quando formos capazes de saber e não apenas dizer, “eu posso”, com toda a plenitude do que isso significa, então seremos realmente livres.
Até lá, enquanto nos sentimos limitados por um planeta, regulamentos ou grades, mais não seremos que sempre prisioneiros daquilo que os nossos sentidos nos transmitem.
E tanto assim é que somos obrigados a comunicar codificando e descodificando estas letras e imagens, presos que estamos a estas convenções.


E enquanto você o faz, vou ali dar corda ao relógio e trancar a porta.

By me 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

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Código de ética? Eu li código de ética?

Oh pá! Olha que tenho cieiro!
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Apontamentos lúmicos na inutilidade das rotinas



Calhou, hoje, almoçar sozinho.
Enfim, o termo “sozinho” será um exagero, já que o local onde almocei estava apinhado de gente. Hoje mais do que é normal. Bem mais.
Mas as gestões de trabalho e equipas a isso me levaram e não fui num grupo como de costume.
Enquanto esperava na fila, tal como depois sentado em frente ao tabuleiro, fui adiantando um pouco na leitura que tenho em mãos. Bem mais saudável, digo eu, que com o nariz enfiado numa qualquer rede social. E útil, acrescente-se.
Trata-se de “Viagem à volta do meu quarto”, de Xavier de Maitres, e a forma como está organizado permite estes mergulhares curtos. Mas absorventes e deliciosos.
Num dos capítulos, e na sequência da descrição de um quadro a óleo na parede, leio este pedaço:

“Mas supondo que o mérito da arte é igual de um e de outro lado, não deveríamos apressar-nos a concluir sobre o mérito da arte pelo mérito do artista. – Vêem-se crianças a tocar cravo como grandes mestres; nunca se viu um bom pintor de doze anos. A pintura, além do gosto e do sentimento, exige que se pense, o que os músicos podem dispensar. Vêem-se todos os dias homens sem cabeça e sem coração a tirar de um violino, de uma harpa, sons maravilhosos.
Pode ensinar-se o animal humano a tocar cravo, e quando ensinado por um bom mestre, a alma consegue viajar à vontade, enquanto os dedos vão maquinalmente produzir sons nos quais ela não se envolve. – Ao contrário, não se pode pintar a coisa mais simples do mundo sem que a alma se empenhe nisso com todas as suas faculdades.”

É interessante como este escritor disse isto nos finais no séc. XVIII. Aquilo que eu mesmo venho defendendo faz tempo:
Que a comunicação visual, fotografia incluída, é algo que exige uma vivência que não é ainda própria do jovem, criança ou adolescente. Ao contrário do que sucede com a comunicação sonora, música incluída.
Quanto à imagem… foi exactamente o que vi e fotografei, sem enfeites posteriores, em saindo do escuro do posto de trabalho para o almoço a solo e enfrentando o dia solarengo.


(Nota adicional: a tal luz…)

By me

Regresso ao futuro



Por aquilo que fui lendo e ouvindo, parece que hoje é aquele dia!
O dia do “Regresso ao futuro”.
Por aquilo que consta do filme realizado por Robert Zemeckis, a viagem dos heróis atira-os para o dia 21 de Outubro de 2015, algures de manhã.
E mostra-nos um nico do que seria.

Pena é que o DeLorean, o carro usado para tal viagem, não tenha feito uma passagem cá pelo burgo, para que pudéssemos dar uma espreitadela num qualquer jornal local e sabermos o que será o dia.
Mas, e como dizia um velho compincha, “A vida é muito difícil sem manual de instruções.” O problema está em que a última página é escrita ao mesmo tempo em que pregam a tampa do esquife.


Imagem: também algures, mas da net.
By me

Quatro elementos



Encontrei-os, aos três, no chão da rua: O tijolo, a pena e o vidro.
A quase bolinha verde andou comigo no bolso durante umas semanas. Fui fantasiando sobre que tipo de bijutaria seria, se de um colar, se de um anel ou mesmo se teria sido uma aplicação de alguma peça de vestuário.
Um dia, numa pausa de café, fui brincando com ela na mão e lembrei-me de a mostrar a quem estava comigo e contar os meus devaneios. Logo fiquei desiludido! Contaram-me que não passava de um pedaço de vidro polido, que se vende em sacos às dezenas, para fazer o fundo de aquários. Nada mais prosaico.
A pena, dei com ela no ar. Melhor dizendo, deu ela comigo, que veio trazida pelo vento, uma manhã ia eu a caminho do café. Achei-lhe graça, de pequena e leve que era, capaz de voar ou de fazer voar o seu original dono. Guardei-a com cuidado no bolso do colete e, posteriormente, numa caixinha em casa.
O tijolo… bem o tijolo é burro, ou seja, não possui buracos e é usado, por aqui, para forrar o chão de um pequeno parque cá no bairro, já ressequido mas ainda usado pela malta nova com as suas biclas e bolas. Este pedaço, em particular, estava avulso, que alguns dos que por lá vão, por feitio ou por bebedeira, sempre se vão encarregando de o ir destruindo aos poucos.
O que une tudo isto? O ar, a água, a terra? Nada em particular que não seja o fogo do sol que os iluminou enquanto os fotografei.

E, destes quatro elementos, certo é que os que não são oriundos da mão humana são bem mais bonitos. Como seria de esperar

By me 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Origens



Vários têm sido os que me questionam sobre os motivos que me levaram a partir para o projecto “Oldfashion”. E o que pretendi eu com ele.
Sobre as perguntas originais, as que entretanto sobrevieram e as respostas que tenho ou virei a encontrar, mantenho alguma discrição. Se e quando chegar a um fim definido, e se valer a pena a sua divulgação, cá estarei então para isso.
Mas posso dizer que as referências exteriores passaram e passam pelos trabalhos de diversos autores, nem todos directamente ligados à fotografia.
Pese embora possa parecer alguma imodéstia, aqui ficam alguns dos que, pelo que fizeram ou pensaram, me impulsionaram a partir naquela viagem:

August Sander,
A exposição “The family of Man”,
Susan Sontag,
Roland Barthes,
John Berger,
Antoni Tàpies,
Karl Popper,
Roussado Pinto.

Esta lista, que peca por defeito, deixa de fora inúmeros nomes da fotografia ou do pensamento ligado às artes ou ao conhecimento do Homem e do seu comportamento que, de uma forma ou de outra, me foram provocando e questionando.
Tal como aqueles que, não tendo nome sonante ou obra publicada, me fizeram ou fazem pensar, em tertúlias ou conversas em volta de uns copos ou petiscos.
E uma enorme dose de rebeldia ou contestação, já que este trabalho, do ponto de vista estritamente fotográfico, é a antítese da reportagem ou do caçador de imagens que, com a sua inquietude e itinerância, persegue assuntos e luzes.

Já quanto às questões estéticas não foram nem são, neste caso, uma prioridade que me inquiete.

By me 

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Convinha que se entendesse uma coisa de uma vez por todas:
A satisfação que muita gente, muita gente mesmo, neste momento sente sobre as incertezas políticas a curto prazo prende-se, essencialmente, com o facto de este governo estar por dias.  

Aquilo que desde há quatro anos uma grande parte dos portugueses reclama.
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Fotografias todas iguais



Li, há uns tempos num blog sobre fotografia, uma frase provocante:
“Todas as imagens que hoje vemos, especialmente as postadas nos flickrs são todas absolutamente iguais.”
E concluiu o autor com uma outra, repleta de ironia:
“Na verdade, vivemos hoje uma estética flickeriana pós-moderna!”.

Estas duas afirmações mexem fundo comigo e sobre elas não posso deixar de aqui colocar o que penso, em concordância e em discordância.
Entenda-se, no entanto, que tento aqui ser sintético, o que não apenas não é fácil com este tema como não é uma característica que eu mesmo possua.


Comecemos por pensar no que o cidadão comum pensa ser um fotógrafo dito “profissional”.
É aquele que, qual caçador solitário, vai a lugares exóticos ou situações perigosas, e regressa com troféus sob a forma de fotografias. Ou aquele que priva com as beldades, aquelas que enchem o olho e que, ainda por cima, lhes diz o que fazerem e como se exibirem. Ou ainda, é aquele que está onde estão os grandes, os decisores, os que governam o mundo. É alguém que, por ser fotógrafo, é um privilegiado.
Claro está que esse tal cidadão comum ignora o quão difícil é aceder-se a alguns lugares, o quão complicado é conseguirem-se algumas credenciais, o quão violento pode ser o lidar com alguns seguranças, privados ou não. Ou quanta frustração pode estar (e em regra está) atrás de cada fotografia de sucesso!
Assim, e tal como sucede com as princesas, desportistas e gente do mundo do espectáculo e cinema, há uma tentativa de imitar os ídolos.


Acontece, porém, que fazer uma imagem é fácil, cada vez mais fácil. Uma câmara de média gama não custa uma fortuna, um computador para pós-tratamento também não e sabemos os que são programas pirateados, Desta forma, cada disparo em digital é a custo zero, depois de adquiridos os equipamentos de base. E a luz e o mundo estão aí para serem captados. Cada um à sua medida pode imitar os seus ídolos.


Por outro lado, o acesso à divulgação da fotografia era, até há uns tempos, difícil. Implicava arranjar uma galeria (e respectivo galerista) que estivesse na disposição de disponibilizar tempo e espaço ou uma revista ou jornal (com o respectivo editor fotográfico) que estive disposto a arriscar publicar.
Para além de os espaços físicos ou os de imprensa não serem assim tantos quanto isso, há ainda que passar pelos crivos dos galeristas, que decidem o que se pode ou não vender ou expor, o que é “arte” ou não é, bem como os editores fotográficos dos periódicos, que decidem se as imagens estão ou não em consonância com a linha editorial em causa ou com os artigos a ilustrar.
Hoje, os únicos filtros existentes são, ou podem ser, apenas as decisões dos fotógrafos, o ter-se acesso à web e uma conta num qualquer flickr. As escolhas do que se publica são, em exclusivo, dos autores dos trabalhos, sem qualquer outro aconselhamento ou decisão. O que faz com que as escolhas do que é colocado on-line se baseiem nos gostos e capacidades dos fotógrafos, seja qual for o seu “calibre”, e não nas opiniões de “lentes” e comerciantes, cuja opinião depende do seu conservadorismo, das modas estéticas vigentes e da capacidade de venda dos trabalhos. Sejam estes bons ou maus.


Mas também devemos considerar a quantidade de imagens que se produzem e os motivos de tal produção. É que, para além do custo zero e da facilidade de exibição, existe a efemeridade de cada fotografia.
Até há alguns anos, o consumo de fotografia fazia-se nas galerias e museus ou nos livros e revistas. E ia-se a exposições com o intuito de degustar o que lá estivesse, ou comprava-se a publicação com o mesmo objectivo. E se uma visita a um museu ou galeria fica na memória do visitante, as publicações ficam nas caixas ou estantes, sempre disponíveis para uma revisitação ou consulta. Por necessidade ou pelo simples prazer de ver trabalhos de que gostamos. Ou, melhor ainda, passear numa livraria, encontrar “velhos amigos” ou “ novos conhecidos” nas prateleiras e ter o prazer de as levar para casa e com eles passar uns bons momentos. Ou de com eles aprender algo mais.
Em alternativa, na web gastam-se uns escassos segundos a ver uma imagem, para logo de seguida se passar à seguinte, que são muitas por ali e há sempre outras para serem vistas. E, quantas mais são vistas, menos na memória se nos ficam. Meia hora depois de se iniciar esse périplo, de quantas nos recordamos? Ou do nome dos autores?
E se enquanto consumidores de imagens o sabemos, enquanto produtores de imagens igualmente. E para que o trabalho de cada um, seja produtor comum ou amador ou um “expert” ou profissional, há que apresentar quantidade, por vezes mais que qualidade. Ser-se o último a publicar na web, no blog, no flickr (seja ele qual for), por forma a que essas imagens fiquem na página de entrada ou nos favoritos dos visitantes para que, de algum modo, fiquem em evidência. E serem visitadas ou vistas, tão assiduamente que fiquem na memória e se evidenciem na mol de fotografias vistas.
Sabemos também que, em regra, a quantidade é inimiga da qualidade. E o fotógrafo comum acaba por se repetir, ou repetir as fórmulas que conhece como eficazes na comunicação fotográfica, nesse seu anseio de ser conhecido e visto.

Para alicerçar a expressão bombástica “No flickr as fotografias são todas iguais”, devemos considerar também nós mesmos, os que vemos essas tais fotografias.
De tantas imagens que vemos, mesmo que todas difiram em estéticas, técnicas e conceitos, acabamos por ter uma noção do todo e não das partes e, porque somos humanos e preguiçosos, um padrão no que vemos. Um padrão de heterogeneidade do qual é difícil de sair. Do qual é difícil de sairmos!
Por muito que nós mesmos possamos saber da matéria, tanto de estética como de técnica ou ainda de semiótica, findo um pedaço de “surfar” nos flickrs, acabamos por ficar com uma espécie de névoa, de criar padrões de análise que nos conduzem, inexoravelmente, a classificações minimalistas e uniformes. E ficarmos com essa tal ideia de que “no flickr as fotografias são todas iguais”.

Mas para fazermos essa análise das fotografias do flickr, ou de quaisquer outras fotografias ou de qualquer outra forma de expressão pessoal, haverá que abandonar os nossos próprios conceitos de estética e de qualidade e analisar os conceitos inerentes aos autores, bem assim como os contextos em que se inserem. À revelia do que afirma Popper, no seu excelso “Mito do contexto”.
Os fotógrafos que nos ficam na memória são, muito naturalmente, os muito bons, alguns mesmo génios. E a genialidade não se encontra nas farmácias ou na foz de um rio. É aquilo que alguns, poucos, têm e que muitos tentam imitar. E são esses muitos que enchem as páginas web. E que se esforçam por fazer melhor e/ou diferente as fotografias que apresentam. Sujeitos às limitações interiores que possuem. E às limitações que a vida lhes impõe: Não saem dos seus bairros, cidades, países, fotografam fora das horas de trabalho ou quando não há deveres familiares ou escolares a cumprir.
Ou, para ir ainda mais longe, estão formatados pela cultura em que se inserem, quer seja a apreendida nas publicações impressas, quer seja a apreendida nas publicações electrónicas. Ou ainda na TV e no cinema. Como seja a ditadura do número de ouro ou a imposição do espaço útil com quatro cantos em ângulo recto.
Para já não falar nas questões afectas aos respectivos países e regiões do globo. Com as suas cores saturadas, composições e assuntos mais agressivos, constatáveis nos climas quentes, ou as cores mais pastel e assuntos e estéticas mais tranquilos, visíveis nos autores de países mais frios. Ou a existência ou ausência de estabilidade sócio-económico-política que nesses países se possa viver.
Até porque sabemos que a inovação advém da inquietude e esta tanto pode ser endógena como exógena!

Não se pode deixar de parte a questão da facilidade da produção fotográfica. Se hoje basta ter a câmara, fazer click e os automatismos de fabricante fazem quase tudo o resto, se no photoshop a tentativa e erro são inconsequentes que os originais não se perdem ou destroem, assim não era até há algum tempo. O grau de conhecimento sobre películas, exposição, químicos e afins era tal que só quem a tal actividade se dedicava obtinha satisfação no seu trabalho. Por outro lado, o custo de cada trabalho, aliado ao trabalho que cada imagem implicava eram de tal monta, bem como o tempo que mediava entre o fotografar e o ver a fotografia, que o simples premir do obturador obrigava à existência de muitas certezas nas decisões e gestos. E a uma razoável antevisão mental do resultado final.
Obrigavam a pensar a fotografia e no acto fotográfico. O que hoje é incomum de encontrar.

Claro que, no meio de todas estas considerações, para que a expressão ”No flickr todas as fotografias são iguais”, há ainda que pensar no que é o flickr. Ou o que são os espaços de publicação de fotografias na web, tenham o nome que tiverem.
Muito frequentemente, e bem mais do que se poderia esperar ou gostar, estes espaços são mais pontos de encontro social que galerias virtuais de fotografia. Usando a imagem, fotográfica ou não, busca-se reconhecimento de capacidades, pares no pensamento, um “lugar ao sol” ou tão só a quebra de solidão.
Sintomático de tal são os comentários deixados nas imagens publicadas e quem os deixa. Uma grande maioria é do género “Gostei!” ou equivalente e escritos por quem constar na lista de favoritos de quem é comentado. O número de visitas ao espaço de cada um depende, sem sombra de dúvida, do número de comentários feitos a outros e da quantidade de “adicionados”. As galerias virtuais são vistas em circuito fechado, criando-se grupos de interesse que não dependem da qualidade das imagens expostas mas tão só da assiduidade com que se comenta e se publicam novas fotografias. E, uma vez mais, a quantidade é sobrevalorizada em relação à qualidade.
Nestas circunstâncias, é natural vir a constatar as semelhanças dos trabalhos exibidos. As temáticas ficam restritas ao grupo, as estéticas também, para já não falar nas linguagens de imagem empregues.

Deverá ainda considerar-se um outro aspecto, vital do meu ponto de vista:
A esmagadora maioria das fotografias na web são produzidas por gente jovem. Porque é moda o uso das tecnologias de informação; porque é moda o uso da fotografia; porque é uma forma de comunicação no grupo a que se pertence ou se almeja pertencer.
Acontece, porém, que o órgão da visão é o ultimo a ficar completo. Em termos de maturidade fisiológica e em termos de maturidade de percepção. Ao invés do que acontece com a audição, a primeira a surgir, a que mais cedo se completa. E a comunicação sonora é a que mais cedo se pratica, até porque dispensa o contacto físico ou o uso de qualquer instrumento. Dir-se-ia que é a mais “animal”.
E porque a visão mais tarde se completa e mais complexa é, o seu uso exige mais prática, mais maturação do indivíduo, fruto das experiências e da vivência.
Por isso mesmo, é muito mais comum encontrar-se quem tenha sucesso na comunicação sonora ainda jovem, ao invés da comunicação visual, seja fotografia, pintura, cinema ou teatro, onde esse sucesso acontece bem mais tarde na vida.

Com todo este “discurso” sobre a eventual normalização das fotografias no flickr, não estou, de forma alguma, a retirar importância ou qualidade ao que ali é exposto. Tanto uma como outra, como em qualquer forma de expressão pessoal, devem ser avaliadas em função de quem as faz, bem mais que em função das regras ou modas em vigor.
Ao longo dos anos em que estive no papel de professor de fotografia e vídeo (prefiro usar o termo “ajudante de aprendizagem”!), a avaliação dos trabalhos que me eram apresentados era feita em função dos objectivos que aluno tinha com cada trabalho e em função da evolução que cada um apresentava ao longo do tempo. Considerando a mensagem que se pretendia transmitir e a eficácia com que ela era recebida no grupo a que se destinava.
Que uma fotografia pode ser particularmente boa, eficaz na comunicação e original em forma e conteúdo e ser, ao mesmo tempo, pouco ou nada apreciada fora do contexto a que se destina. Grupo etário, grupo social, grupo cultural. Quem quer que esteja fora dele e olhe para o conjunto dos trabalhos apresentados, verá uniformidade no conjunto, poucas diferenças ou originalidades. E cada uma ser igual às demais. Mas, dentro do grupo de destino, cada uma poderá ser a melhor, a mais comunicativa, a que mais sentimentos ou mensagens fará passar.
Caberá ao fotógrafo em causa, aprendiz numa escola, freelancer, assalariado de uma publicação ou utente assíduo de um qualquer flickr, decidir se os trabalhos que apresenta se destinam ao publico em geral se a um grupo restrito com o qual se identifique.
E caberá a quem as analise, interpretar esses destinos e saber avaliar em função deles e não apenas com base nas regras e códigos aceites pela maioria. Para já não referir a questão de essa “maioria” ser ocidental, do médio-oriente ou do extremo-oriente. Que, para além de uma avaliação incompleta e, consequentemente, incorrecta, será castrante para quem a receba. E castrante na criatividade e capacidade de comunicação.

No meio de tudo isto onde fica a arte?
Tenho que admitir que eu mesmo não sei, até porque não sei o que é “Arte”, fotográfica ou outra.
Mas, sobre esta questão apenas, muito haveria que dizer e já aqui não tenho espaço nem o leitor paciência.

Para finalizar, repito que tudo o acima escrito não passa de uma síntese sobre a matéria. E, a par com a criatividade, o poder de síntese não é uma das minhas qualidades.

Espero, no entanto, ter-me feito entender a quem por aqui passar e tenha a coragem de tudo isto ler.

By me 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

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Ver alguns filhos da mãe subirem na hierarquia do poder faz-me perguntar se as respectivas mães terão orgulho ou vergonha neles.

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Repito-me.
Lamentavelmente tenho que me repetir!

Neste ofício, a luz é a matéria-prima e a perspectiva a ferramenta!


Quem não entender isto, por estas ou quaisquer outras palavras, bem pode ir para calceteiro marítimo, que terá melhor futuro.

Quando eu morrer



Apontamentos lúmicos na inutilidade das rotinas

Quando eu morrer, por favor atirem-me para uma vala comum.
Que de nada valerei então mas quero continuar a ser igualitário mesmo depois do fim.
Do que tiver sido e deixado, que se divida em dois grupos: o que se não aproveita e o que sobrar.
E que de ambos que se tirem ilações.
Do primeiro e maior que se aprenda o que não fazer. Os porquês e os comos.
Do outro, se alguma coisa contiver, que se use para que os vindouros possam ir mais longe, onde eu mesmo não consegui ir.

Que a jornada é longa, tão longa enquanto houver um humano por cá.

By me 

domingo, 18 de outubro de 2015

Bátega



As coisas que o São Pedro nos faz ir saber!

Tentando ir tomar café, fiquei retido no átrio do prédio. Caía uma bátega descomunal, desaconselhando qualquer um a enfrenta-la que não fosse por um motivo urgente. O meu cafezinho, se bem que necessário, não era urgente.
E fiquei a pensar no termo – bátega – e nas suas origens.
Em regressando depois, seco, fui indagar.
Não consegui saber, com rigor, de onde vem. Mas as diversas fontes referem uma vasilha ou tigela para conter líquidos. Árabe ou indiano.
Pelo que posso deduzir que uma bátega (ou bátega d’água) será o despejar súbito de um desses objectos.
Faz sentido, o uso que lhe damos hoje.

E hoje já caíram várias.

By me