segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Cópias fotográficas




Um dia alguém que estimo colocou-me uma questão académica, que lhe tinha sido colocada por um académico:
O que é uma fotografia original?

Durante anos, quando apenas trabalhava com película, sempre tive a mesma atitude com quem fotografava: “Não entrego os originais!” Com isto queria dizer que o negativos ou diapositivos ficavam comigo e que, a partir deles poderia sempre fazer a quantidade de cópias que entendesse, dentro do que haviamos combinado previamente.
A questão que me foi colocada vê as coisas de outra forma: serão os negativos os originais ou o positivo, dado como pronto, é que o é?
Se abordarmos as coisas do ponto de vista de Ansel Adams e dos seus seguidores de método, será antes esta segunda possibilidade.
O trabalho do fotógrafo, quer seja ele que faça a tomada de vista e a impressão quer tenha um impressor a trabalhar para ele, só está pronto quando a imagem está visível para o público. E isto após ter sido positivada ou passada para o suporte final. Com todas as características técnicas que isso implica: brilho e contraste, formato e tamanho, etc. Por vezes, até mesmo a moldura ou a forma como é exposta é decisão do autor.
É assim que cada trabalho, por muito suado e trabalhado que tenha sido, é peça única. Todas as demais são cópias, de melhor ou pior qualidade.
Com a fotografia digital, o mesmo se passa.
O trabalhar o ficheiro produzido na câmara com um programa de tratamento de imagem, pensando que ela vai ser vista num PC ou em papel ou numa revista ou num out-door faz com que o resultado final seja único, seja original. Todos os demais exemplares, mesmo com a fidelidade que o digital permite, são meras cópias em tudo ou quase idênticas àquilo que o autor produziu.
Algumas são reproduzidas aos milhares ou milhões, se se destinarem à imprensa, ou têm uma visibilidade tão variável quanto os visitantes de uma dada página web. E cada uma destas visitas resulta numa cópia, tão fiel quanto a calibração do monitor do observador permite.
No entanto, a grande maravilha da fotografia, para além do factor “congelação do tempo” é exactamente a sua facilidade de reprodução, de distribuição generalizada e de passagem da sua “mensagem” por muitos milhares ou milhões de pessoas.
Assim, será que é importante a posse de um original fotográfico? Será que pegar ou olhar para uma folha de papel coberta de prata enegrecida ou de corantes e dizer “Este é um original de …” é importante?
Para além da sensação mística de “esta imagem prevaleceu ao longo dos tempos e eu estou a olhar para ela” não sinto na fotografia o mesmo que sinto perante um quadro pintado. Nem eu nem a grande maioria do público, para quem o que importa é ver o que a imagem conta, o que ela descreve e transcreve do tempo que congelou.
Excepto certos trabalhos, de certos autores, que fazem ou fizeram questão de aprimorar todos os detalhes, dos cinzas judiciosamente espalhados pela superfície ao tamanho e impacto que ela provocará no espectador.
É por isto, mas não só, que não coloco “photographias” minhas na web. Vou colocando imagens, cópias nem sempre tecnicamente fieis de fotografias que vou fazendo. Que a web não permite mostrar alguns factores: certas proporções perdem-se pelo caminho das conversões automáticas dos servidores, o peso das imagens na transmissão de dados não se compadece com grandes resoluções, a gama tonal com a qual a dou por pronta dificilmente será reproduzida. Nem sequer sei se tenho o meu próprio monitor ajustado. Sei apenas que, olhando aqui para o que fiz, a dou por pronta. Ou que só gosto de a ver quando impressa com 50cm de lado.
Os originais, continuo a dizê-lo ainda hoje com o digital, estão aqui, nas minhas paredes ou pastas ou nos discos rígidos.

No entanto, a pergunta que se segue impõe-se:
“Será que a vós, observadores do que aqui vou pondo, interessa ver o original ou tão só a cópia?”.

By me

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