sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Gostar, não gostar, abominar




A língua portuguesa é muito traiçoeira, costuma dizer-se.
Mas uma dessas traições estende-se a quase todas as línguas, tanto quanto sei. E prende-se com o termo “Não”.
Supostamente esta palavra significa a negação da afirmação a que está associada: “Não gosto”, “Não faço”, “Não vou”.
Mas se nos últimos exemplos os termo “não” implica o impedimento do verbo e, consequentemente, que ele não acontece, já no primeiro caso “não” não é uma imposição do seu oposto. O oposto de “Não gosto” não é “Gosto”!
Gostar implica uma atitude positiva ao que estiver em causa, uma atracção, empatia positiva. “Não gosto” será apenas a não existência desses sentimentos. E não a existência de sentimentos negativos.
Para estes usamos afirmações como “Detesto”, “Odeio”, “Abomino” e outras que tais.
“Não gosto” implica a existência de sentimentos neutros perante a situação descrita. Nada mais.

Por isso mesmo é-me impossível dizer “Não gosto” perante o aumento exponencial de cartazes dizendo “Trespassa-se”, “Vende-se”, “Fechado” e outros que tais em comércios pelo país fora. Pequenas lojas, algumas com várias dezenas de anos de existência, vão fechando as portas a cada dia que passa. E se, nalguns casos, trata-se de os seus proprietários se terem reformado, noutros é mesmo uma questão económica, de incapacidade de sobrevivência da actividade.
Temos vindo a notar isto mesmo aos poucos, com as grandes superfícies e centros comerciais a derrotarem o pequeno comércio, com os seus preços por atacado, promoções imbatíveis, cartões de cliente e afins. Mas, ao que parece, a crise e o disparate feito por alguns poucos da grande finança estão mesmo a matar estas pequenas actividades. E, tratando-se muitas delas de empresas de cariz familiar, a atirar estas famílias para a incapacidade de proverem ao seu sustento. Bem como das dos poucos empregados que pudessem ter.
Sobre tudo isto é-me impossível dizer “Não gosto”! Tenho mesmo que afirmar que “Odeio”, Detesto”, “Abomino”!
E faço estender estes sentimentos àqueles que providenciaram que tal acontecesse. Os das grandes finanças que, aconteça o que acontecer, não passarão fome. Bem como aqueles que têm vindo a defender a competição, quase que desenfreada, entre empreendedores, corridas económicas em que os mais fracos, capazes de andar mas incapazes de correr a essas velocidades, acabam por soçobrar. Eles e os que com eles vivem.
Mas os políticos e os macroeconómicas continuam a andar em bons carros, comprar em lojas dispendiosas e a fazer experiências políticas e financeiras das quais nunca pagarão os juros, quanto mais as dívidas.
Para esses, o meu sentimento bem definido de ódio e a esperança de ter o gosto de, um dia, poder escolher-lhes o candeeiro onde ficarão pendurados para exemplo dos vindouros!

By me 

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