A
língua portuguesa é muito traiçoeira, costuma dizer-se.
Mas
uma dessas traições estende-se a quase todas as línguas, tanto quanto sei. E
prende-se com o termo “Não”.
Supostamente
esta palavra significa a negação da afirmação a que está associada: “Não
gosto”, “Não faço”, “Não vou”.
Mas
se nos últimos exemplos os termo “não” implica o impedimento do verbo e,
consequentemente, que ele não acontece, já no primeiro caso “não” não é uma
imposição do seu oposto. O oposto de “Não gosto” não é “Gosto”!
Gostar
implica uma atitude positiva ao que estiver em causa, uma atracção, empatia
positiva. “Não gosto” será apenas a não existência desses sentimentos. E não a
existência de sentimentos negativos.
Para
estes usamos afirmações como “Detesto”, “Odeio”, “Abomino” e outras que tais.
“Não
gosto” implica a existência de sentimentos neutros perante a situação descrita.
Nada mais.
Por
isso mesmo é-me impossível dizer “Não gosto” perante o aumento exponencial de
cartazes dizendo “Trespassa-se”, “Vende-se”, “Fechado” e outros que tais em
comércios pelo país fora. Pequenas lojas, algumas com várias dezenas de anos de
existência, vão fechando as portas a cada dia que passa. E se, nalguns casos,
trata-se de os seus proprietários se terem reformado, noutros é mesmo uma
questão económica, de incapacidade de sobrevivência da actividade.
Temos
vindo a notar isto mesmo aos poucos, com as grandes superfícies e centros
comerciais a derrotarem o pequeno comércio, com os seus preços por atacado,
promoções imbatíveis, cartões de cliente e afins. Mas, ao que parece, a crise e
o disparate feito por alguns poucos da grande finança estão mesmo a matar estas
pequenas actividades. E, tratando-se muitas delas de empresas de cariz
familiar, a atirar estas famílias para a incapacidade de proverem ao seu
sustento. Bem como das dos poucos empregados que pudessem ter.
Sobre
tudo isto é-me impossível dizer “Não gosto”! Tenho mesmo que afirmar que
“Odeio”, Detesto”, “Abomino”!
E
faço estender estes sentimentos àqueles que providenciaram que tal acontecesse.
Os das grandes finanças que, aconteça o que acontecer, não passarão fome. Bem
como aqueles que têm vindo a defender a competição, quase que desenfreada,
entre empreendedores, corridas económicas em que os mais fracos, capazes de
andar mas incapazes de correr a essas velocidades, acabam por soçobrar. Eles e os
que com eles vivem.
Mas
os políticos e os macroeconómicas continuam a andar em bons carros, comprar em
lojas dispendiosas e a fazer experiências políticas e financeiras das quais
nunca pagarão os juros, quanto mais as dívidas.
Para
esses, o meu sentimento bem definido de ódio e a esperança de ter o gosto de,
um dia, poder escolher-lhes o candeeiro onde ficarão pendurados para exemplo
dos vindouros!
By me
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