Hoje
é dia europeu de protecção de dados. E não, não me refiro a estes, mas antes
aos dados sobre cada um de nós, que andam desbaratados e ao deus dará.
Há
uns anos, e em tom de brincadeira, decidi fazer uma experiência: com base nas
poucas informações que tinha sobre uma pessoa com quem conversava na web e que
residia no Chile, tentei obter informações a seu respeito. Sem sair da minha
cadeira e sem quebrar nenhuma segurança de nenhuma base de dados. Assustador,
mais ainda se pensarmos que, à época, o Facebook ainda não existia.
Obtive
fotografias, moradas, contractos, números de identificação, parentescos… Tudo
isto através do que se encontrava disponível nas empresas com quem essa pessoa
tinha relações, sites institucionais como turismo e agências internacionais.
Sem cometer num crime de invasão de privacidade nem intrusão em locais
privados. Até porque não sei como quebrar seguranças nem encontrar “portas das
traseiras”.
A
maior parte de nós não se preocupa com estas coisas. As bases de dados e a
utilização dos serviços electrónicos parecem facilitar-nos a vida e reduzir
custos reais e ecológicos. Parecem apenas.
Numa
notícia televisiva recente, em breve todo o país estará abrangido por receitas
electrónicas, na sequência de um projecto-piloto bem sucedido. Neste sistema,
deixará de existir a receita médica em papel: o tratamento é inscrito numa base
de dados e o doente só tem que se apresentar numa farmácia com o seu cartão de
utente para obter o medicamento.
Parece
cheio de bondades e virtudes este sistema. No entanto…
No
entanto consigo antever os jogos de bastidores por parte de grandes empresas,
bem como de companhias de seguros, a querer saber que a tratamentos foi sujeito
determinado individuo que se candidata a um emprego, promoção ou seguro de saúde.
Ou, ainda, um político a querer “descobrir a careca” ao líder adversário. Ou
ainda os jogos de influências por parte das empresas produtoras de
medicamentos, ao saberem que certo médico prescreve mais deste que daquele
fabricante.
Bastará,
para que tudo isto seja mais que pessimismo, que haja interesse em quebrar
seguranças de informação. Coisa que sabemos ser relativamente fácil para quem
saiba do ofício.
As
informações privadas sobre cada um de nós andam por aí, queiramo-lo ou não.
Algumas são voluntariamente fornecidas, as mais das vezes com uma sobredose de
ingenuidade: redes sociais, inquéritos de porta-a-porta ou de rua, conteúdos de
contractos comerciais…
Outras
são-nos impostas, por vezes rudemente. Os trajectos feitos ao abrigo da “via
verde” ou dos passes sociais ficam registados em mãos privadas, as câmaras de
vigilância super abundam, guardando cada rosto e gesto em público, e até a
simples compra de um artigo ou serviço, com a obrigatoriedade de factura, deixa
registo em bases de dados permeáveis.
Não
creio que Orwell tivesse imaginado tudo isto indo tão longe. Ou mesmo que a IBM
europeia e ao serviço do regime Nazi e do controlo de Judeus, sonhasse sequer
estender os seus serviços a todos os seres humanos desta forma.
Quando
proteger os seus dados, proteja-os mesmo.
By me
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