sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Quanto tempo dura o passado?




Ontem o primeiro—ministro mentiu!
Em declarações em França, negou afirmações suas de há pouco mais de um ano.
Ontem, em Paris, houve uma manifestação contra o primeiro-ministro, incorporando cidadãos portugueses radicados em França.
Ambos os factos foram relatados pelos diversos meios de comunicação social, tanto com imagens como com palavras. Ontem.
Porque hoje caiu no esquecimento.
Não parece ser importante para quem escolhe notícias a serem impressas que uma coisa e outra seja divulgada. Nem parece ser importante, para quem escolhe notícias dos programas matinais que ambas sejam do conhecimento geral.
Talvez que quem assim decide tenha razão. Afinal, onde está a novidade de o primeiro-ministro ser contestado nas ruas, mesmo que no estrangeiro? Ou onde está a novidade de o primeiro-ministro vir dizer hoje que nunca disse as suas afirmações de ontem? É que, na verdade, tudo isso é tão corriqueiro quanto um pingo de chuva atrás do outro.
Talvez que seja notícia por uma semana, de se chamar especialistas e politólogos, uma semana em que não aconteçam contestações ou em que o primeiro-ministro não seja apanhado a mentir.

Mas talvez que, para que isto não seja notícia, se venham a criar muitos postos de trabalho equivalentes ao de Winston Smith, o principal personagem de 1984, que ganhava a vida num departamento governamental a corrigir as anteriores edições dos jornais, para que o passado nunca contradissesse o presente.

By me

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