Ontem o primeiro—ministro
mentiu!
Em declarações em
França, negou afirmações suas de há pouco mais de um ano.
Ontem, em Paris,
houve uma manifestação contra o primeiro-ministro, incorporando cidadãos
portugueses radicados em França.
Ambos os factos
foram relatados pelos diversos meios de comunicação social, tanto com imagens
como com palavras. Ontem.
Porque hoje caiu
no esquecimento.
Não parece ser
importante para quem escolhe notícias a serem impressas que uma coisa e outra
seja divulgada. Nem parece ser importante, para quem escolhe notícias dos
programas matinais que ambas sejam do conhecimento geral.
Talvez que quem
assim decide tenha razão. Afinal, onde está a novidade de o primeiro-ministro
ser contestado nas ruas, mesmo que no estrangeiro? Ou onde está a novidade de o
primeiro-ministro vir dizer hoje que nunca disse as suas afirmações de ontem? É
que, na verdade, tudo isso é tão corriqueiro quanto um pingo de chuva atrás do
outro.
Talvez que seja
notícia por uma semana, de se chamar especialistas e politólogos, uma semana em
que não aconteçam contestações ou em que o primeiro-ministro não seja apanhado
a mentir.
Mas talvez que,
para que isto não seja notícia, se venham a criar muitos postos de trabalho
equivalentes ao de Winston Smith, o principal personagem de 1984, que ganhava a
vida num departamento governamental a corrigir as anteriores edições dos
jornais, para que o passado nunca contradissesse o presente.
By me
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