domingo, 20 de janeiro de 2013

Depois da tempestade




Diz-se que depois da tempestade vem a bonança.
Nada mais verdade!
Nesta manhã de domingo espreito p’la janela e o fumo do meu cigarro sobe a direito, sem nada que perturbe o seu subir. O único som que escuto é o de um pássaro (será ave?) que num qualquer galho manifesta a sua satisfação p’la tranquilidade do dia.
Na rua o único vestígio do temporal de ontem é este caixote assim encostado à chaparia de um carro. O contentores de lixo já foram endireitados e o seu conteúdo recolhido por aqueles que trabalham quando os demais dormem.
Aqui, na minha rua, a bonança sucedeu à tempestade. Excepto…
Excepto que às nove e pouco da manhã de um domingo e com os contentores de lixo esvaziados já há quem os venha espreitar, na vã tentativa de neles encontrar algo que lhe melhore o dia.
Tem talvez uns 60 anos, trás um cão preso por uma corda longa, um ferro com um gancho para rebuscar o fundo dos contentores e um velho carrinho de compras de duas rodas remendado. P’la forma como o manuseia, vazio.
A tempestade dos deuses já se foi. A tempestade dos homens, essa, continua.
E se as minhas pernas nuas se arrepiaram com o frio matinal na varanda, a minha alma continua gélida ao pensar que há quem se delicie com um lauto e quente pequeno-almoço enquanto que outros, muitos…

By me 

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