domingo, 14 de outubro de 2018

Sim, vou falar do furacão




Em primeiro lugar, nunca percebi o que terão contra os cães. Poderia ser furaleão ou furagato ou até furabarata, bicho de que ninguém gosta. Mas insistem em chamar-lhe furacão e no entanto toda a gente gosta de cães e faz fotos e textos fofinhos a seu respeito.
Agora falando a sério, acontece hoje, tal como durante a noite, uma sensação de coito interrompido.
Porque, finalmente, iriamos entrar na primeira liga dos países que têm fenómenos climatéricos bem adversos, com listas de danos e seus custos, vítimas (muitas) a sepultar, apoios internacionais… e no fim de contas, acabou por ser o equivalente a uma noite bem invernosa, apesar de poucas inundações. Estas sim, bem típicas cá do burgo, com as nossas linhas de água interrompidas por construções aprovadas, sargetas entupidas, lojas abaixo do nível do solo ciclicamente afogadas…
E ficaram todos frustrados, público em geral e media em particular, porque os avisos da protecção civil, baseados em previsões, não se concretizaram. Os ventos não foram assim tão fortes, os directos não mostraram assim tantos estragos, as protecções individuais acabaram por de nada servir…
Avisam todos esses frustrados do desastre, os falidos da calamidade, que a história do Pedro e do Lobo, sendo uma fábula, não pode ser esquecida. Que os alarmes não devem ser maiores que os danos, que em breve ninguém acreditará nos avisos, que as instituições e os media devem ser mais comedidos…
Pergunto o que diriam todos esses, e os outros, se a situação fosse a inversa. Se os avisos e alertas de protecção não existissem ou fossem mínimos, pese embora os indícios e previsões fossem indicadores de catástrofe iminente. Se, por falta de alertas e com uma tempestade violenta, no lugar de algumas dezenas de desalojados, os tivéssemos aos milhares, se as escavadoras estivessem agora à procura de corpos, se o presidente não tivesse mãos a medir nos abracinhos de consolação.
Diriam os críticos de hoje que os serviços não funcionaram, que haveria que demitir os técnicos responsáveis e os políticos que os tutelam, que se poderia ter feito muito mais na prevenção…
Sim! Os jornais e televisões não deveriam estar tão sedentos de sangue, quase chorando de raiva por não terem ou quase não terem assunto para falar ou mostrar. Deveriam, antes sim, estarem satisfeitos por os alertas terem funcionado, os cidadãos terem respondido positivamente e as consequências funestas, pese embora os elementos não se terem manifestado com a violência antecipada, terem sido bem menores que o temido. A comunicação social, no seu todo, fez um mau serviço.

Mas se não gosto dos arautos da desgraça, porque o pessimismo agudo é uma doença contagiosa e mortal, o certo é que a inconsciência e a falta de prevenção primária são tão ou mais perigosas.
Como diz o povo, “Prudência e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém!”

Imagem: edit by me from the web

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