sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Há dias...



Há dias em que temos sorte! Mas não durante todo o dia.
Acordamos, p’la força do hábito, ao raiar do dia ou mesmo antes. E dizemos, em voz alta ou não, p’ro sol: “Vai andando que eu mais logo te apanho.” E viramo-nos p’ro outro lado.
Quando, depois de tudo decidido e higienizado, interior e exteriormente, achamos que é hora de ir apanhá-lo, saímos p’ro café. Que é sempre bom tomar um café com bolo p’ra começar o dia.
Na lojinha do bairro, ambos nos esperam. Tal como nos aguarda um aparelho de televisão, ligado e sintonizado num desses programas matinais de entretenimento. Deste, jorra aquilo que deveria ser belo: o canto. Deveria, porque não o é, nem pouco mais ou menos. Em tempos, tive uma espécie de periquito que cantava melhor que este cavalheiro. E era atroz!
Mas, e p’ra além do tom de voz e do desafinar do coitado, moeu-me a paciência o maldito do refrão, cantado muito p’ra além daquilo que qualquer tribunal deveria considerar crime muito grave:
“Sou ninguém! Sem ti não sou nada!”
Entendo que o desespero p’la solidão ou p’lo abandono amoroso seja penoso a ponto de se gritar de dor. Escusava era de o fazer em público, com direito a divulgação nos media. Mais p’ra mais com um grave ataque à língua que no une:
Que o “não ser” e o “nada” é uma redundância de negativas, resultando numa positiva. O oposto do desejado.

Perdi hoje uma excelente oportunidade de sair da cama com o sol: no seu subir ou descer no horizonte, ou mesmo no apogeu. Qualquer coisa que me evitasse esta agressão sonora.

P’ra quem assim canta e p’ra quem o escolheu para um palco televisivo, qualquer penalização abaixo de umas valentes vergastadas em público é pouco!

By me

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