segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Manias



É um daqueles hábitos antigos que tenho: em vendo alguém com uma Pentax na mão, peço-lhe para a fotografar.
A razão é simples: já somos tão raros os que as usam que se justifica fazer o registo do acontecimento.
Nem sempre é fácil consegui-lo. Por vezes são turistas, com quem nem sempre é fácil explicar os motivos, por vezes é gente desconfiada, que pensa logo o pior, por vezes são tímidos… Mas em conseguindo chegar à fala, um pouco de bom humor, o exibir a minha própria câmara e um sorriso acabam por ser suficientes.
Foi o caso.
Encontrei-o num lugar cosmopolita e popular da cidade. No meio daquela gente toda, o olhar treinado não deixou escapar a marca na câmara e na correia e abordei-o.
Começou por entender que queria uma foto dele e estava em vias de aceder quando lhe expliquei que não, que era mesmo e só da câmara. E foi o início de uns bons quinze minutos de conversa em torno da fotografia, das vantagens da marca, da sua retro-compatibilidade…
E foi aqui que a porca torceu o rabo!
Que procurava ele uma objectiva antiga, de rosca, e cuja marca se me escapou. Dizia ele, enquanto lhe indicava eu onde procurar por cá coisas dessas, que a óptica tinha um belo “bouquet”, uma suavidade rara. Fiquei chateado!
Se ele me tivesse argumentado com a luminosidade aceitava. Se me tivesse falado no ângulo de visão e como se sentia confortável com ele, aplaudia. Se me tivesse referido o gostar de trabalhar com objectivas antigas, em que o visor fica escuro quando ajustamos o diafragma, também compreendia.
Agora porque está na moda o “bouquet”, que nem ele bem sabe o que é (nem eu, já agora)…
Recordo os tempos em que o maior desejo de qualquer um com uma câmara era ter objectivas nítidas, bem nítidas. O controlo dessa nitidez fazíamo-lo nós, jogando com a profundidade de campo, com o bafejar a objectiva, com o recurso a meias de senhora (técnica que lhe referi e que desconhecia)…
Para já não falar naquele outro fotógrafo famoso, cujas imagens suaves se baseavam na luz – e como ele bem trabalhava a luz – e no ser patrocinado por uma marca de equipamento entretanto desaparecida, e que ele despolia suavemente o elemento frontal das objectivas.

Lamento, com muita tristeza, que a actual moda dita “artística” seja o procurar equipamento e não o procurar o fazer de imagens.

By me 

1 comentário:

Anónimo disse...

Esta "invenção" fez-me lembras de algumas das tuas! http://www.pentaxforums.com/news/pentax-lens-turbo-for-sony-nex-cameras.html#more

Abraço
António Samagaio