quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Devaneios



Olho para a janela do espaço a que pomposamente chamo de “estúdio”, no conceito original do termo: local onde se estuda.
Lá fora, o sol matutino tenta entrar, impedido pela cortina opalina que a côa e difunde. Sobre ela, algumas sombras: dos batentes da janela, de um espanta espíritos que está ali nem sei bem porquê, de duas bandeiras.
Que eu tenho duas bandeiras na janela. Grandes, com um metro e vinte de comprido cada uma. Uma bandeira nacional, outra bandeira negra. Ambas a precisarem de serem substituídas, que o sol e a chuva as vão degradando. Mas em graus diferentes. Que se a bandeira negra drapeja, fazendo ritmar o sol cá dentro, já a verde e vermelha está amarrada ao mastro, enrolada e amarrotada. Mensagens subliminares, que não sei se passam para quem passa.
Por dentro, uma cortina preta. Não que esteja de luto, como com a bandeira, mas para coar ao limite o sol que entra. Que se ele é a matéria-prima do que aqui vou fazendo, por vezes gosto de armar em deus e produzir e controlar aquilo que há-de iluminar o que vou fazendo.
A meia distância entre mim e a janela um flash e um reflector-difusor. Ambos pequenos e portáteis, mais ou menos adaptados ao espaço que tenho e ao que vou fazendo. Não são os ideais, que o ideal é uma utopia, mas fazem o seu trabalho.
Em cima um varão, que os outros estão fora de campo, onde penduro de tudo um pouco menos políticos (infelizmente): fundos, luzes, objectos, difusores.
Pertinho de mim, tão perto que se me encosta à cara, a câmara, com as suas pernas entre as minhas, num enlace quase sensual.


Quando olho assim para a minha janela, pergunto-me como sobreviveria se não tivesse Luz e como a degustar.

By me 

Sem comentários: