terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Up there



Estávamos em ’75.
Para além das confusões generalizadas que o país vivia, alguns tentavam ultrapassar as questões políticas e sociais e criar algo de diferente. Um deles foi o Maestro José Atalaya.
Percorrendo os liceus de então com um pequeno grupo de musica de câmara, foi explicando à gente nova o que era a música clássica, hoje conhecida por erudita (como odeio este termo!)
Quando passou pelo Liceu Rainha D. Leonor, onde então eu estudava, para além da sessão ofereceu a quem quisesse bilhetes para um espectáculo de ópera no Coliseu de Lisboa. Claro que aceitei, ainda que não soubesse muito bem ao que ía.
Sentados no “pontapé nas costas”, eu, namorada e amigos, que havia eu conseguido convencer a irem também, deparámo-nos com “As Valquírias” de Wagner.
Caramba! Para uma primeira experiência com ópera, Wagner foi coisa pesada. Bem pesada, até porque a encenação e cenário, se bem me recordo, era minimalista, sendo a companhia estrangeira e em tournée.
Sei que alguns dos que foram ficaram traumatizados com a experiência. Por mim, não posso dizer que tenha ficado maravilhado, mas foi uma relação de amor/ódio bem equilibrada.
E, ainda hoje, quando oiço trechos dessa obra, a memória me salta no tempo e recua umas dezenas de anos. Para uma época de crenças e construção, em que únicos obstáculos, para além dos conjunturais, éramos nós próprios, se o quiséssemos.
Em chegando a casa, hoje, não vinha de grande maré. Tem dias assim, em que nos deixamos levar por aquele pedacinho de nós que é mais permeável.
E, ao mesmo tempo que me preparava para as ver imagens feitas para e durante o trabalho, liguei o televisor, sintonizado que está no canal Mezzo. Para meu espanto, e alegria, era exactamente essa a ópera que transmitiam (transmitem, para ser rigoroso).
Dirão alguns que não se trata de uma obra de amimar os ânimos. Mas, no meu caso particular, tem esse efeito, tal como o “Aprendiz de feiticeiro” de Durkas ou o “I got plenty o’nothing” de Gershwin. Manias, que querem.
Isso e um “Canadian Club”, 12 anos, certamente me farão reconciliar com Morfeu esta noite.

Para os que não conhecem, aqui ficam uns links, apanhados à pressa:
http://www.youtube.com/watch?v=1aKAH_t0aXA
http://www.youtube.com/watch?v=1Nlrib90dFM
http://www.youtube.com/watch?v=BwmyJAEnz4s

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