segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Uma questão de prazer



Os prazeres devem ser partilhados!
Se não for pelo prazer da partilha do prazer, que seja pelo prazer da partilha tão-somente. Que quanto mais gente houver tendo prazer, maior será a felicidade colectiva. E se mesmo isto não chegar para justificar a partilha do prazer, entenda-se que quanto maior for a felicidade colectiva, mais dela sobra para cada um de nós.
Donde, partilhar o prazer tem sempre retorno positivo, seja qual for o ponto de vista adoptado!
E qualquer dos cinco sentidos pode estar na origem do prazer e da sua partilha: táctil, gustativo, olfactivo, visual, auditivo. Para além, claro, do prazer emotivo e intelectual oriundo dos prazeres sensoriais.
Mas prazeres há em que os cinco sentidos mais não são que veículos de transmissão entre o que provoca o prazer e a sua sensação:
O prazer de um espectáculo é, para além do estímulo à memória de vivências anteriores, o prazer imediato da luz, do movimento, dos sons…; o prazer de uma refeição, para além da companhia e da partilha do vital alimento, é o paladar, os aromas, as formas e as cores que antecipam o palato e nos fazem salivar…
Mas tenho para mim que o prazer da leitura não passa pelos sentidos. Não tenho prazer especial em que me leiam em voz alta e, quando sou eu a ler, não sei se o provoco. Por outro lado, as letras, por bonitas que sejam, mais não são que códigos que por si mesmos pouco significam. É antes o seu conjunto, formando palavras, frases, livros, que provocam ideias em quem as lê, das quais provem o prazer. E esse prazer, creio eu, é um prazer solitário, interior, a desfrutar numa relação íntima e exclusiva com as letras, palavras e livros.
Mas, ainda assim, o prazer da leitura pode e deve ser partilhado. Se não na simultaneidade da leitura, no saber-se que aquele com quem se partilha o prazer fará o seu próprio percurso naquilo em que sabemos haver prazer, criando o seu próprio mundo imaginário em torno da palavra escrita. E a proximidade dos mundos criados e prazeres sentidos por dois leitores será tanto maior, creio eu, quanto maior for a proximidade afectiva ou intelectual entre os que partilham o prazer da leitura. Ou, por outro lado, esse prazer partilhado aumentará ou diminuirá essa distância.
Talvez por gostar de partilhar prazeres que gosto de partilhar leituras. Em regra, oferecendo livros. Que a posse de um livro, em tendo provocado prazer numa primeira leitura, permite ser relido mais tarde, renovando ou criando novos prazeres.
E, tal como disse anteriormente, quanto mais prazer houver, mais feliz será a sociedade. E, na mesma proporção, eu com ela.


Texto e imagem: by me

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