sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Perspectivas



Neste ultimo dia do ano, as abertas alternavam com aguaceiros fortes, de fazer todos os que caminhavam na rua protegerem-se nos beirais e portadas dos prédios. Mas quando as nuvens abriam e o sol brilhava os transeuntes regressavam. E um fotógrafo, pelo menos, alegrava-se. No entanto não era isto que chamava a atenção de um cidadão em particular.

Preparava-me eu para entrar neste centro comercial, onde a minha marca favorita de cigarros está à venda, e apercebo-me de um homem, aí dos seus trintas e poucos, cego e com bengala, que parecia confundido bem junto às portas de vidro.
Aproximei-me e perguntei-lhe se podia ajudar. Que sim, respondeu-me, que queria ir para as paragens de autocarro, distantes uns bons 200 metros e com ruas para atravessar, mas que estava com dificuldades.
Claro que lhe ofereci o braço para ele segurar e o levei lá.
P’lo caminho fomos conversando um pouco: trabalha ele ali perto há pouco tempo, pelo que a sua orientação ainda não está afinada. E o que mais o estava a baralhar era… os cheiros.
Um forte cheiro a carne assada, talvez frangos, era o que ele mais notava, sem lhe saber a origem, que mesmo o vento, porque inconstante, não ajudava.
Deixei-o junto da paragem que ele procurava, e regressei pelos cigarros. E, p’lo caminho, fui tentando “ver” o que ele via: o sol na cara, as poças de água sob os pés, o apito do comboio, o vento que me apagava o isqueiro… e levei tempo a dar com uma “barraca” de cachorros quentes e carne assada, no subsolo e a descoberto.
Nem sempre os cegos são os que não vêem!

Texto e imagem: by me

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