quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Traveling 28



Estava eu pacatamente encostado ao balcão do café da minha rua, à espera da “banheira e hambúrguer”, (código privado para café cheio e pão-de-deus com queijo e manteiga), quando chega o carteiro.
Aqui na rua são habitualmente três que fazem a distribuição de correspondência, sendo que os conheço de vista e de dois dedos de conversa, para verificar se tenho correio, para falar do tempo ou de fotografia com um deles. Confesso que não sei o nome de nenhum deles, que nunca o perguntei, mas primam todos pela simpatia e afabilidade.
Pois este, assim que entrou e depositou as cartas para o café, exclamou para mim:
Ainda bem que o vejo, que andava a pensar em si. Tenho aqui uma coisa que acho que lhe é destinada.”
E, metendo a mão no pesado saco que carregava, retirou uma caixa, cúbica, aí com uns 20cm de lado.
“Vem do estrangeiro, parece-me.”
Fixe! Ganda pinta! Baril! Afinal também o tipo das barbas brancas recebe encomendas do Pólo Norte.
Bem… Não veio exactamente do Pólo Norte, mas tão só do norte, da Grã-Bretanha, para ser mais exacto. Mas é lá de cima, do norte e do frio, prontos!
E explicou-me ele que tudo na morada estava correcto e legível, excepto a letra correspondente ao meu apartamento, que poderia ter várias interpretações. Tinha ele comentado a coisa com colega de giro e ele alvitrara que seria eu, o das barbas e da fotografia.
Já uma pessoa não pode andar por aí, conversando e fotografando, que até os carteiros nos conhecem pelo nome, num bairro dormitório suburbano e num megatério de 96 apartamentos.
Pois dentro da tal caixa estava, muito bem acondicionada contra choques e humidades, o que aqui se vê na imagem: uma objectiva fotográfica.
A sua alcunha é ”traveling 28”, e trata-se de uma objectiva Pentax, de 28mm, já com alguns anitos valentes e pertencente a um companheiro norte-americano que conheço de um fórum em que participo.
A ideia é esta óptica andar de membro em membro, através do mundo, e cada um de nós mostrar o que é capaz ou quer fotografar com ela.
Tenho um projecto específico para ela e, apesar de ter um igual ou quase, tenho-a esperado para tal. No fim de contas não teria graça subverter o projecto colectivo.
Resta-me, para além de a usar, saber quem é o seguinte na lista. Por qualquer motivo, tenho na ideia que será um Australiano, mas também não descarto a ideia de ser um Islandês, o único desta nacionalidade neste fórum.
Seja como for, este ano o Pai Natal, disfarçado de carteiro, chegou uns dias antes do prazo. Mas sendo verdade que “é Natal quando um Homem quiser”, já abri esta minha prenda.


Texto e imagem: by me

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