terça-feira, 2 de outubro de 2018

Tempus fugit




Vejamos as coisas como elas são: A medição e organização do tempo é coisa antiga. Muito antiga.
A unidade de tempo mais antiga, porque mais fácil de constatar, terá sido o dia. Unidade inteira.
De seguida os ciclos lunares. De lua cheia a lua cheia, 28 dias.
A maior unidade de tempo inteira terá sido o ano, marcado pelas posições do sol. Mais difícil de observar, devido às condições atmosféricas.
Quanto às divisões destas unidades básicas, que não necessitavam de instrumentos para as medir, teremos o ano dividido pelos solstícios e equinócios. A sua importância, tanto no clima quanto no que respeita a colheitas ou caça, fez com que os antigos, os muito antigos, erguessem monumentos megalíticos, implicando o esforço de toda a comunidade na sua construção.
Já a lua, por seu turno, ainda hoje lhe reconhecemos os ciclos: os quartos de lua que, no hemisfério norte, lhe confere o apodo de mentirosa.
O dia tem sido dividido desde sempre em duas metades, marcadas pelo meio dia. É constatável sem mais que um pau ou o próprio corpo: Sabemos que é meio dia quando a sombra é a menor possível, marcando ela o momento em que o sol está o mais alto possível. É o meio dia solar.
A divisão do dia em fracções menores já é consequência da tecnologia, mais ou menos elaborada. Desde a clepsidra ao relógio de sol, das velas às ampulhetas, da mecânica ao nuclear, tudo tem sido usado para medir o tempo: horas, minutos, segundos…
Vêm agora uns políticos iluminados querer reajustar aquilo que já de si está mal calibrado: a variação horária legal de verão e inverno. Sondaram as opiniões e concluíram que sim, quer será bom manter a referência horária ao longo de todo o ano.
E concluíram que o melhor seria, por questões económicas, manter a de verão.
Nada a apontar contra isso não fosse a hora de verão estar desfasada da hora solar em uma hora. O meio dia do relógio não coincide, nem sequer está próximo, do meio dia solar.
Querem estes senhores, que passam mais tempo no obscuro dos gabinetes que sob o olhar atento do astro-rei, mandar às urtigas aquilo que durante milénios foi importante para o ser humano, fosse qual fosse a localização ou a cultura.
Em nome de teorias economicistas, de rentabilidades laborais e de ganhos energéticos, querem decretar que os ciclos humanos são pouco importantes e que de medidas temporais percebem eles.
Reduzam-se mas é à sua insignificância perante o universo, apercebam-se da sua efemeridade e fragilidade e não queiram impor regras sobre aquilo que não dominam.
O dia divide-se em duas partes iguais, marcadas pela altura sol! E o meio dia é quando o sol está mais alto!
Já basta, nisso de alterarem datas e calendários, terem anulado a importância da celebração ancestral do solstício de inverno de 22 de dezembro (no hemisfério norte) para o natal uns dias depois.



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