No metro,
semi-apinhado, vagou um lugar sentado. A pouco mais de meio passo de mim.
A menos de três
bancos de distância, a dondoca de uns oitenta e muitos quilos, cabelo armado e
volumosa carteira dependurada da curva do braço, filou-o com o olhar. E sem mais
delongas, investiu.
Um primeiro
encontrão violento, bem sucedido, e avançou um pouco menos de um metro. Sem uma
palavra prévia ou posterior. Um segundo encontrão equivalente noutro incauto, e
andou mais meio metro. Também em silêncio. Um terceiro encontrão e o mesmo
resultado. Sem pedidos de desculpa ou quejandos.
Faltava-lhe,
coitada, um quarto encontrão. Em mim. Logo em mim. Que me havia apercebido de
tudo.
Melhorei o
equilíbrio nos pés, incrementei a firmeza com que me segurava, e aguardei o
embate com o braço esquerdo preparado. Não me afectou nem num milímetro. Nem
dei sinais de me ter apercebido.
Repetiu a proeza,
desta feita com redobrado ímpeto. E acusei o embate.
Olhando para ela
com ar de espanto, soltei um sonoro “Então!?”, que se espalhou em redor, acima
do ruído de fundo da carruagem em movimento.
Respondeu com o
maior dos desplantes: “Está ali um lugar vago!”
Olhei para onde
indicava com o seu queixo proeminente, olhei-a de volta nos olhos, e retorqui
candidamente: “Tem razão, não me havia apercebido. Obrigado.”
E, lestamente,
sentei-me.
Se o olhar que me
lançou matasse, eu estaria agora na morgue.
Mas os olhares
divertidos que me deitaram as vítimas anteriores compensaram tudo, incluindo os
embates recebidos.
By me
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