Li por aí que os “ultra conservadores” do CDS/PP não
gostaram que Assunção Cristas tivesse contado num programa de televisão que “já
tomou banho público em pelota”.
Acrescenta-se no artigo que essa facção interna desse
partido terá recomendado “… pudor e recato, virtudes bem cristãs…” aos
dirigentes nacionais.
É-me pouco importante o onde e como aquela senhora tenha
tomado banho. Assim como me é pouco importante que exista gente que não goste
de banhos públicos em pelota, em Portugal ou onde quer que seja.
Mas assusta-me que um partido com assento parlamentar
recomende “… pudor e recato, virtudes bem cristãs…”!
Esta expressão faz com que a minha memória recue meio
século, ao tempo em que este discurso era a base das recomendações governamentais.
Em que as mulheres sem a cabeça coberta eram
desconsideradas. Tal como o são hoje noutras paragens e culturas que estranhamos
e condenamos.
Em que enfermeiras e telefonistas não podiam ser casadas e
as professoras do ensino primário careciam de autorização ministerial para
casar. Em que sair do país sem autorização do marido era interdito. Em que o
adultério era punido e diferencialmente entre homens e mulheres. Em que a
Assusta-me ver na Assembleia da República, onde são decretadas
as leis que regem a sociedade, um partido onde há uma facção assim pensa.
Mas assusta-me ainda mais saber que esse partido está lá
porque cidadãos o escolheram como seus representantes. Ou, dito de outra forma,
que há um número significativo de portugueses que, de um modo ou de outro,
concordam com esta forma de pensar e agir.
Olhando para o que nos chega de aquém e além mar, fico ainda
mais assustado ao constatar que esta forma de pensar se vai instalando de novo,
de um modo mais claro ou mais discreto. Mas, lenta e firmemente, o pensamento
conservador e ultra conservador, que defende comportamentos sociais discriminatórios,
está a ganhar força. Por género, por etnia, por sexualidade, por credos.
As liberdades individuais e colectivas conquistadas e
consolidadas com esforço e sacrifício ao longo dos últimos 150 ou 200 anos
estão a esbroar-se.
Como se o ser Humano estivesse condenado a viver em sociedades
moralmente castradas e castrantes e estes dois últimos séculos tivessem sido um
intervalo.
Assusta-me pensar que é essa regressão social e
civilizacional que deixarei – deixaremos - aos meus vindouros.
By me
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