É verdade que sim: terem mostrado aquelas fotografias
daqueles três foragidos, presos daquela forma, não será o que há de mais digno.
Tratam-se, é certo, de pessoas acusadas de crimes de roubo
violento contra idosos que, ao que parece, não mostravam piedade pelas vítimas.
E que já possuíam um cadastro criminal “recheado”.
Mas também é certo que todo o ser humano, por mais abjecto
que seja, tem que ser respeitado. A máxima “não faças aos outros o que não
queres que te façam” aplica-se também neste caso. E é para evitar que a justiça
seja aplicada por mãos próprias, quiçá desproporcionada, que temos códigos e
leis e tribunais.
Por hediondos que possam ser os crimes de que vão acusados,
deverão ter um tratamento igualitário como os demais acusados: detidos,
acusados, defendidos, julgados e, sendo o caso, cumpridores de pena. Tudo o que
ultrapasse isto será descer tão baixo quanto os crimes de que cometeram. A
justiça, que se quer fria e imparcial, não pode pactuar com humilhações como a
divulgação destas fotografias.
Nada contra, entenda-se, a forma como estavam detidos:
algemados, no chão, a aguardar transporte de volta às celas de onde fugiram. As
circunstâncias da sua detenção não são conhecidas com rigor. E não se pode
esperar dos agentes da polícia, que lidam com criminosos violentos, “luvas de
pelica” e frases como “por favor, deixe-nos detê-lo.”
Mas esta exposição pública, desta forma, não é digna de um
estado de direito.
Quanto ao resto, não nos enganemos:
Volta e meia passam series documentais, rodadas noutros
países, em que as detenções de criminosos são registadas e são tão ou mais
violentas que estas fotografias. Tanto nas actuações das forças da lei como nas
reacções dos perseguidos. E não vejo coros de público a protestar contra tais
exibições televisivas. Ou os vídeos publicados on-line por jornais.
Talvez porque o “lá fora” seja muito longe.
A dignificação das forças policiais não pode passar por
situações como esta. Nem o estado civilizacional em que vivemos.
Quando não, fará sentido o regresso das execuções públicas,
os pelourinhos e as estacas com cabeças à entrada das cidades. “Só para avisar”.
By me
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