domingo, 21 de outubro de 2018

Fotografia e justiça




É verdade que sim: terem mostrado aquelas fotografias daqueles três foragidos, presos daquela forma, não será o que há de mais digno.
Tratam-se, é certo, de pessoas acusadas de crimes de roubo violento contra idosos que, ao que parece, não mostravam piedade pelas vítimas. E que já possuíam um cadastro criminal “recheado”.
Mas também é certo que todo o ser humano, por mais abjecto que seja, tem que ser respeitado. A máxima “não faças aos outros o que não queres que te façam” aplica-se também neste caso. E é para evitar que a justiça seja aplicada por mãos próprias, quiçá desproporcionada, que temos códigos e leis e tribunais.
Por hediondos que possam ser os crimes de que vão acusados, deverão ter um tratamento igualitário como os demais acusados: detidos, acusados, defendidos, julgados e, sendo o caso, cumpridores de pena. Tudo o que ultrapasse isto será descer tão baixo quanto os crimes de que cometeram. A justiça, que se quer fria e imparcial, não pode pactuar com humilhações como a divulgação destas fotografias.
Nada contra, entenda-se, a forma como estavam detidos: algemados, no chão, a aguardar transporte de volta às celas de onde fugiram. As circunstâncias da sua detenção não são conhecidas com rigor. E não se pode esperar dos agentes da polícia, que lidam com criminosos violentos, “luvas de pelica” e frases como “por favor, deixe-nos detê-lo.”
Mas esta exposição pública, desta forma, não é digna de um estado de direito.

Quanto ao resto, não nos enganemos:
Volta e meia passam series documentais, rodadas noutros países, em que as detenções de criminosos são registadas e são tão ou mais violentas que estas fotografias. Tanto nas actuações das forças da lei como nas reacções dos perseguidos. E não vejo coros de público a protestar contra tais exibições televisivas. Ou os vídeos publicados on-line por jornais.
Talvez porque o “lá fora” seja muito longe.
A dignificação das forças policiais não pode passar por situações como esta. Nem o estado civilizacional em que vivemos.
Quando não, fará sentido o regresso das execuções públicas, os pelourinhos e as estacas com cabeças à entrada das cidades. “Só para avisar”.



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