Durante alguns anos trabalhei com jovens no processo de
aprendizagens da captação de imagem. Fotográfica e videográfica.
Confesso que tive como preocupação, e para além dos
conteúdos e objectivos definidos pelo ministério e pela escola, de lhes tentar
criar as dúvidas dos “porquê” em paralelo e com a mesma intensidade que os “como”.
Até porque, e como venho defendendo desde há muito, em se sabendo os “porquê” é
bem mais fácil saber-se os “como”. Na técnica, na estética, na ética, na semiótica…
Também confesso que nunca lhes ensinei nada. O mais que fiz
foi ajudá-los a aprender, colocando à sua disposição os saberes e criando
modos, tão individualizados quanto o possível, para que os aprendessem. Que o
meu objectivo sempre foi que aprendessem e não que eu ensinasse.
A minha satisfação, actual e de então, é saber que seguiram
o percurso que queriam, mesmo que com os desvios óbvios que a vida ou os deuses
nos impõem.
Vou sabendo de muitos deles ocasionalmente. Ou porque nos
cruzamos na vida profissional, ou porque nos cruzamos na vida real, ou porque
nos cruzamos nas redes sociais. E é particularmente satisfatório e
reconfortante saber que o trabalho em conjunto que então tivemos lhes é útil hoje,
pese embora as evoluções tecnológicas e os pontapés da vida.
Há um caso individual que, pela sua originalidade, não
consigo esquecer:
Num encontro fortuito e único num jardim e ao fim do dia,
acabei por estar de conversa com uma mocinha estudante liceal. A coisa começou
por um cigarro que me pediu, seguiu por uma fotografia que lhe pedi, bem como
aos amiguinhos que com ela estavam, e evoluiu para a fotografia, o seu mister e
alguns aspectos bem para além dos pixels e das objectivas.
Que ela estava com uma dúvida, bem comum nessas idades,
sobre o seu futuro. E a fotografia parecia-lhe ser um caminho, ainda que de difícil
percurso tanto nas aprendizagens como profissionalmente. Mas que era algo de
que gostava, apesar de quase nada saber fazer, era um facto.
Dei-lhe umas dicas, brincámos um nico com algumas ideias
fora do comum e só “remotamente ligadas” ao acto fotográfico, vi os seus olhos
brilharem com algumas descobertas com o que lhe dizia, e separámo-nos. Que ela
tinha os amigos à espera e eu fome por um jantar ali perto. Ficou ela, apenas,
com o meu contacto numa rede social e nada mais.
Ao longo dos anos, ocasionalmente, vou sabendo dela, que os
algoritmos do Face me vão mostrando alguma coisa: escola profissional na área,
curso superior ligado à criatividade e à fotografia… E alguns trabalhos que vai
mostrando.
A minha satisfação é presumir que, de algum modo, aquela
conversa ocasional, informal e insólita, pode ter ajudado na sua opção de
percurso. E, por aquilo que vou vendo, ainda bem. Que o que vejo justifica a
escolha. E bem.
Fica, como ilustração, uma fotografia. Da série “um olhar”
que fui fazendo por aqueles tempos, suponho que sejam os dessa então jovem
adolescente. Mas não o afianço com rigor.
Se, por mero acaso, a pessoa que refiro ler estas linhas,
que me corrija se for o caso.
By me
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