sexta-feira, 19 de outubro de 2018

A fotografia fofinha do dia




A minha objectiva é isso mesmo: objectiva e não subjectiva. Não tem emoções, afectos ou desafectos. É democrática e igualitária, já que na sua convergência, refracção e difracção da luz, trata tudo e todos por igual. Do mais abjecto ao mais ilustre, a todos capta e transmite com a mesma limpidez e perspectiva. Na frieza do vidro e metal, na maciez do plástico e borracha, e na suavidade do seu mecanismo, não distingue amigos de inimigos.

Já o homem por de trás da objectiva é subjectivo. Músculos e neurónios conjugam esforços no bombear do sangue e emoções fazendo sempre comparações entre bom e mau, avaliando afectos e desafectos e reagindo em conformidade. O calor das emoções aproxima-o ou afasta-o do que o circunda, amando, odiando, desprezando ou desejando pessoas, objectos ou situações.

Quando eu, Homem da objectiva, tenho que o ser por dever, entro na objectiva e tento ser uno com ela.
A tudo e todos que à sua frente se exibem ou são apanhados, são tratados por igual, tentando não conhecer amigos ou inimigos, abafando ou tentando abafar emoções endócrinas.

Mas eu, o Homem da objectiva, quando o sou quando quero e gosto, deixo e quero que a objectiva se una a mim e assuma a minha subjectividade.
Vê, transforma, refracta em sintonia com as minhas emoções, boas ou más, positivas ou negativas. Ama o que gosto, despreza o que ignoro, odeia o que me maltrata. Assume o vermelho do meu sangue ou o cinza dos meus neurónios, abrindo ou fechando a íris ao ritmo do coração.

E no espaço que medeia entre o homem da objectiva e objectiva do homem?
Como, defeco e durmo como qualquer outro animal.
E gasto uns litros de tinta a escrever umas linhas…



By me

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