Ao longo da vida
vamos aprendendo algumas coisas. Se assim não fosse, nem valeria a pena viver.
E se houve algo
que fui aprendendo é que seja o que for que nos acontece é passível de ter
aspectos positivos, ainda que muito escondidos. Mesmo que no meio da dor, da
raiva, do desespero, há sempre alguma coisa de positivo, de bom.
Tenho a certeza
disto desde há muito e tenho vindo a tentar tirar partido disso. E isto é tanto
mais fácil de fazer ou constatar quanto formos capazes de sairmos do nosso próprio
papel de actor na vida e passarmos a espectador ou, se preferirmos, estarmos em
simultâneo no palco e na plateia, observando o nosso próprio desempenho
enquanto actores nesta encenação comico-trágico-erotica a que chamamos de existência.
Vem isto a propósito
de estar a ser recorrente o eu publicar por aqui imagens e textos de algum modo
referindo a minha firmeza no deixar de fumar.
Claro está – e seria
hipócrita ou ingénuo afirmar o contrário – que aqui o deixar é uma forma de reafirmar
perante mim que o estou a fazer e que tenho que me aguentar. Tal como é uma
forma de, ao tomar todos os que isto lêem como testemunhas, aumentar o tamanho
do fracasso ou vergonha caso falhe neste propósito.
Tudo isto são
estratégias simples que qualquer terapeuta ou médico recomenda, mesmo que não
explique o porquê.
Mas certo é, também,
que esta experiência fornece material quase que inesgotável para pequenas crónicas.
Coisas positivas que vão acontecendo, tanto a nível pessoal como com os que me
cercam e que, de um modo ou de outro, estão envolvidos neste meu propósito.
Algumas divertidas, outras nem tanto.
Eis um exemplo:
Enquanto fumador,
de longa data e em quantidade, combinei com o café aqui da rua o encomendar e guardar-me
as latas de tabaco. Garantia de negócio para eles, garantia de facilidade no
abastecimento para mim.
Acontece que nem
sempre fumava os cigarros feitos por mim, recorrendo aos maços à venda em
qualquer lado. Por vezes por falta de paciência, por vezes por falta de tempo.
E isto redundava em que no dia do abastecimento semanal poderia haver latas
ainda cheias e virgens em casa.
Sendo certo que a
minha decisão foi mais súbita e de impulso que programada, sobraram-me várias
latas cheias, às quais há que dar destino.
E uma das minhas
opções foi o propor negócio a colegas e conhecidos que, sabendo-os eu
fumadores, poderiam querer comprá-las a preço mais simpático, não perdendo eu
muito com o negócio. A minha marca não é das mais populares, o que reduz os
potencias compradores, mas lá fui conversando, obtendo uma resposta positiva e
uma de “talvez”.
Qual não é o meu
espanto quando ontem mesmo quem me tinha dito que sim, que ficaria com uma pelo
menos, me diz que afinal não.
Argumentou ela –
que se trata de uma senhora – que se eu, fumador inveterado e dos fortes, me
estou a aguentar e sem chatear quem me rodeia, também ela o conseguirá fazer,
pelo que entrou na fase de redução. Drástica e a caminho do corte total.
É bom saber que de
uma forma ou de outra vamos ajeitando um nico o mundo que nos cerca. E se não
for pelas fotografias fracotas, pelos textos mais ou menos irónicos ou cáusticos
ou pelos discursos ou protestos inflamados, que seja pelo exemplo.
Na imagem? Um dos
aspectos negativos no deixar de fumar:
Não mais terei
oportunidade de fazer uma fotografia destas, de arquivo, a menos que mo peçam e
com um objectivo muito preciso.
Nota fotográfica
adicional: a tal luz de que tanto gosto.
By me
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