quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Velhos hábitos



Ao longo da vida vamos aprendendo algumas coisas. Se assim não fosse, nem valeria a pena viver.
E se houve algo que fui aprendendo é que seja o que for que nos acontece é passível de ter aspectos positivos, ainda que muito escondidos. Mesmo que no meio da dor, da raiva, do desespero, há sempre alguma coisa de positivo, de bom.
Tenho a certeza disto desde há muito e tenho vindo a tentar tirar partido disso. E isto é tanto mais fácil de fazer ou constatar quanto formos capazes de sairmos do nosso próprio papel de actor na vida e passarmos a espectador ou, se preferirmos, estarmos em simultâneo no palco e na plateia, observando o nosso próprio desempenho enquanto actores nesta encenação comico-trágico-erotica a que chamamos de existência.

Vem isto a propósito de estar a ser recorrente o eu publicar por aqui imagens e textos de algum modo referindo a minha firmeza no deixar de fumar.
Claro está – e seria hipócrita ou ingénuo afirmar o contrário – que aqui o deixar é uma forma de reafirmar perante mim que o estou a fazer e que tenho que me aguentar. Tal como é uma forma de, ao tomar todos os que isto lêem como testemunhas, aumentar o tamanho do fracasso ou vergonha caso falhe neste propósito.
Tudo isto são estratégias simples que qualquer terapeuta ou médico recomenda, mesmo que não explique o porquê.

Mas certo é, também, que esta experiência fornece material quase que inesgotável para pequenas crónicas. Coisas positivas que vão acontecendo, tanto a nível pessoal como com os que me cercam e que, de um modo ou de outro, estão envolvidos neste meu propósito. Algumas divertidas, outras nem tanto.

Eis um exemplo:
Enquanto fumador, de longa data e em quantidade, combinei com o café aqui da rua o encomendar e guardar-me as latas de tabaco. Garantia de negócio para eles, garantia de facilidade no abastecimento para mim.
Acontece que nem sempre fumava os cigarros feitos por mim, recorrendo aos maços à venda em qualquer lado. Por vezes por falta de paciência, por vezes por falta de tempo. E isto redundava em que no dia do abastecimento semanal poderia haver latas ainda cheias e virgens em casa.
Sendo certo que a minha decisão foi mais súbita e de impulso que programada, sobraram-me várias latas cheias, às quais há que dar destino.
E uma das minhas opções foi o propor negócio a colegas e conhecidos que, sabendo-os eu fumadores, poderiam querer comprá-las a preço mais simpático, não perdendo eu muito com o negócio. A minha marca não é das mais populares, o que reduz os potencias compradores, mas lá fui conversando, obtendo uma resposta positiva e uma de “talvez”.
Qual não é o meu espanto quando ontem mesmo quem me tinha dito que sim, que ficaria com uma pelo menos, me diz que afinal não.
Argumentou ela – que se trata de uma senhora – que se eu, fumador inveterado e dos fortes, me estou a aguentar e sem chatear quem me rodeia, também ela o conseguirá fazer, pelo que entrou na fase de redução. Drástica e a caminho do corte total.
É bom saber que de uma forma ou de outra vamos ajeitando um nico o mundo que nos cerca. E se não for pelas fotografias fracotas, pelos textos mais ou menos irónicos ou cáusticos ou pelos discursos ou protestos inflamados, que seja pelo exemplo.

Na imagem? Um dos aspectos negativos no deixar de fumar:
Não mais terei oportunidade de fazer uma fotografia destas, de arquivo, a menos que mo peçam e com um objectivo muito preciso.


Nota fotográfica adicional: a tal luz de que tanto gosto.

By me 

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