domingo, 3 de janeiro de 2016

Duas histórias



Por um detalhe episódico, lembrei-me disto hoje:

A história aconteceu há uns bons cinco ou seis anos e no Jardim da Estrela.
Era dia de Jazz ao ar livre, o jardim estava cheio e eu não tinha mãos a medir com os pedidos de fotografia. Grátis, como sempre.
A mocinha da imagem deu-me como seu nome o de Lola. Nunca saberei se verdade ou não, mas pouco importa. Mas disse-me ser francesa, viver em Marselha e estudar fotografia. Estava por cá de férias, a visitar parentes distantes, e não dispensara a sua câmara de eleição.
Repare-se que se trata de uma Bronica 6x45, de focal fixa, rolo de 120, 18 fotografias por rolo. Sem zooms, efeitos especiais ou photophops. Deu gosto ver.
No mesmo dia, creio que pouco depois, e numa perspectiva a 90º à direita com esta, fotografei uma senhora conhecida. Cuja imagem não mostro e a seguir explico o porquê.
É ela minha colega, na casa dos trintas bem medidos e vinha acompanhada por um homem, de idade semelhante. Muito apaixonados, muito agarradinhos, muitos beijos e carícias (todas dentro da “decência” para aquele jardim e dia). Foi uma das raras fotografias de namorados que fiz durante os três anos do meu projecto À-Là-Minuta.
No fim da função fotográfica, e enquanto a imagem imprimia, perguntava eu meia dúzia de questões, inócuas mas vitais para o meu estudo e projecto. Entre elas, o ofício dos fotografados.
Pois em chegando a esta pergunta ela, que era quem me ia dando as respostas, vira-se para ele e pergunta-lhe: “Olha lá! Afinal, o que é que tu fazes na vida?”
As perguntas nunca me atrapalharam, apenas as respostas. Mas ele ficou atrapalhado e o que respondeu atabalhoadamente varreu-se-me da memória. Tenho-o anotado por aí.
Mas aquele romance tinha começado e estava a desenrolar-se muito para além de perguntas e respostas sociais, evidenciando que os afectos acontecem, mais carnais ou mais platónicos, independentemente de ofícios, rendimentos ou outras questões que se interponham entre ambos.

Quando se afastaram, divertidos com a fotografia que levavam na mão, continuavam tão agarradinhos como antes.

By me

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