sábado, 16 de janeiro de 2016

Em resposta



Esta fotografia foi feita no Biafra, no ano de 1968, e pelo fotógrafo italiano Romano Cagnoni.
Não é um fotógrafo particularmente conhecido ou divulgado e dele há imagens com mais circulação e referências. No mundo da fotografia, ser italiano não é um factor que ajude, ainda que possa ter excelentes trabalhos. E este é um deles.
Aliás, penso-o de tal forma que este é um dos seus trabalhos que recorrentemente utilizo como exemplo. E uma das raras imagens que tenho exposta em minha casa.
E eu explico o porquê:
Todo o drama da guerra fratricida, da fome atroz e devastadora, da mortandade absurda e o desespero daquele povo está aqui expresso, do meu ponto de vista, pela forma magistral como Cagnoni inverteu os canones, subverteu as regras, ignorou os códigos e usou aquilo que assusta tantos fotógrafos, muitos de renome: a profundidade de campo.
Mais ainda: no lugar de ter nítido quem para nós olha e ignorar ou desfocar o casal ao fundo, como seria habitual, inverteu-o. Tornando ainda mais potente o olhar de pedido de socorro que vemos. E a nossa ligação com ele.
Dos fotógrafos que conheço, poucos tiveram a “ousadia” ou mestria de ir tão longe.

Vem esta conversa e exemplo a propósito de um texto escrito recentemente sobre teleobjectivas e suas aberturas máximas. E de como, considerando preços e tecnologia actuais, não será uma necessidade imperiosa objectivas muito luminosas. As altas sensibilidades possíveis hoje e os estabilizadores de imagem permitem trabalhar com aberturas máximas menores em condições de menor luz.
E quando é referida a questão da profundidade de campo, fala-se nos fundos desfocados. O trivial, o habitual, aquilo que todos fazem.
No entanto, uma objectiva não muito luminosa não teria permitido uma imagem destas. Talvez que o autor nem tivesse tentado fazê-la, se a conhecesse bem. E nós não teríamos esta bela imagem para vermos.

Existe a moda – ou a tendência – que uma fotografia tem que estar toda ela nítida. Esta moda, para além de questões estéticas, será a consequência do fácil acesso a câmaras de sensores menores que o Full Frame ou o 35mm. Algumas de bolso mesmo. E dos automatismos de focagem e exposição, em que os fabricantes procuram a todo o custo que produzam imagens integralmente nítidas. Porque, e na opinião generalizada, uma imagem que assim não esteja ou é arte e de duvidosa qualidade ou é incapacidade do seu autor. Ou, “pior” ainda, o equipamento que não presta.
Esta imagem atesta exactamente o seu oposto!

Eu próprio não faço amiúde este tipo de imagens. Facilitismo, modas, preguiça, falta de sentido estético…
Mas em o querendo fazer, quero poder ter uma abertura tal que mo permita. E isso é tão mais importante e necessário quanto trabalho nas minhas DSLR com formato APS-C, com o qual reduzir a profundidade de campo se torna ainda mais difícil.

Objectivas muito luminosas?
Venham elas e quanto mais o forem melhor. Assim eu tenha meios económicos para a elas aceder.

Do resto trato eu, se “tiver arte e engenho”.

By me 

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