Esta fotografia
foi feita no Biafra, no ano de 1968, e pelo fotógrafo italiano Romano Cagnoni.
Não é um fotógrafo
particularmente conhecido ou divulgado e dele há imagens com mais circulação e
referências. No mundo da fotografia, ser italiano não é um factor que ajude,
ainda que possa ter excelentes trabalhos. E este é um deles.
Aliás, penso-o de
tal forma que este é um dos seus trabalhos que recorrentemente utilizo como
exemplo. E uma das raras imagens que tenho exposta em minha casa.
E eu explico o
porquê:
Todo o drama da
guerra fratricida, da fome atroz e devastadora, da mortandade absurda e o
desespero daquele povo está aqui expresso, do meu ponto de vista, pela forma
magistral como Cagnoni inverteu os canones, subverteu as regras, ignorou os códigos
e usou aquilo que assusta tantos fotógrafos, muitos de renome: a profundidade
de campo.
Mais ainda: no
lugar de ter nítido quem para nós olha e ignorar ou desfocar o casal ao fundo, como
seria habitual, inverteu-o. Tornando ainda mais potente o olhar de pedido de
socorro que vemos. E a nossa ligação com ele.
Dos fotógrafos que
conheço, poucos tiveram a “ousadia” ou mestria de ir tão longe.
Vem esta conversa
e exemplo a propósito de um texto escrito recentemente sobre teleobjectivas e
suas aberturas máximas. E de como, considerando preços e tecnologia actuais, não
será uma necessidade imperiosa objectivas muito luminosas. As altas
sensibilidades possíveis hoje e os estabilizadores de imagem permitem trabalhar
com aberturas máximas menores em condições de menor luz.
E quando é
referida a questão da profundidade de campo, fala-se nos fundos desfocados. O
trivial, o habitual, aquilo que todos fazem.
No entanto, uma
objectiva não muito luminosa não teria permitido uma imagem destas. Talvez que
o autor nem tivesse tentado fazê-la, se a conhecesse bem. E nós não teríamos
esta bela imagem para vermos.
Existe a moda – ou
a tendência – que uma fotografia tem que estar toda ela nítida. Esta moda, para
além de questões estéticas, será a consequência do fácil acesso a câmaras de
sensores menores que o Full Frame ou o 35mm. Algumas de bolso mesmo. E dos
automatismos de focagem e exposição, em que os fabricantes procuram a todo o
custo que produzam imagens integralmente nítidas. Porque, e na opinião
generalizada, uma imagem que assim não esteja ou é arte e de duvidosa qualidade
ou é incapacidade do seu autor. Ou, “pior” ainda, o equipamento que não presta.
Esta imagem atesta
exactamente o seu oposto!
Eu próprio não
faço amiúde este tipo de imagens. Facilitismo, modas, preguiça, falta de
sentido estético…
Mas em o querendo
fazer, quero poder ter uma abertura tal que mo permita. E isso é tão mais
importante e necessário quanto trabalho nas minhas DSLR com formato APS-C, com
o qual reduzir a profundidade de campo se torna ainda mais difícil.
Objectivas muito
luminosas?
Venham elas e
quanto mais o forem melhor. Assim eu tenha meios económicos para a elas aceder.
Do resto trato eu,
se “tiver arte e engenho”.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário